«O título do livro pensara nele enquanto olhava fixamente para a montra de uma pastelaria cheia de porquinhos de maçapão. Há já algum tempo que eu andava interessada na questão do canibalismo simbólico.Na altura, eram os bolos de casamento, encimados pelos seus noivos de açúcar, que muito em particular me fascinavam», Margaret Atwood
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
Matrioskas
O silêncio morde-me os lábios.
O vermelho a tingir a garganta.
Engulo o que nunca te voltarei a dizer [terei dito alguma vez?].
As palavras caem-me todas no estômago.
Enroscam-se umas nas outras,
Matrioskas do meu afecto.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
Acelerar: pública virtude

- Tal como há homens que são maus condutores. - retorque ela.
- Mas já se encontram boas condutoras. Há uns tempos, na auto-estrada em direcção a Lisboa, ia eu a 205 Km/hora, quando vejo uma senhora a ultrapassar-me e pensei: sim senhora, bela condutora, tiro-lhe o chapéu. E reduzi ligeiramente a velocidade para a deixar ultrapassar-me. Ela também ia numa boa máquina. - remata ele.
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Yes, we can (be unemployed)

Não houve nenhum crash da bolsa, não estamos em 1929 e nem sequer foi uma quinta-feira, mas o dia de ontem bem poderia ficar conhecido como a segunda-feira negra. Em menos de 12 horas, sete empresas anunciaram cerca de 72.500 despedimentos na Europa e nos Estados Unidos, agudizando o panorama de crise económica mundial.
Num único dia apenas, a onda de despedimentos atingiu cerca de 15 por cento do número de empregos que se perderam nos EUA em todo o mês passado (cerca de meio milhão). Sinal de que o desemprego não vai parar de acelerar e que a crise atingiu em força as empresas, inclusive as maiores do mundo.
A Caterpillar, construtora norte-americana de bulldozers e escavadores, liderou a vaga de despedimentos, anunciando o corte de 20 mil postos de trabalho, depois de ter apresentado receitas mais baixas nos últimos três meses de 2008 e de temer ainda maior pressão sobre os lucros deste ano. Logo a seguir ficou a farmacêutica Pfizer que, ao comprar a concorrente Wyeth, deixou para trás um rasto de custos humanos: 19 mil trabalhadores das duas empresas vão perder os empregos.
Os números impressionam, mas são apenas números. A estatística não tem carne, não tem pele, fome, empréstimos bancários ou ataques de pânico. Os despedimentos nas grandes empresas são apenas a face mais gigantesca, mais mediática, da crise económica. São números que remetem as pessoas para o anonimato. Mas, em nosso redor, os casos de desemprego multiplicam-se. Há histórias a tocarem-nos no ombro e lá onde dói [quando se sente]. Há olhares sem horizontes, há braços desocupados, há bolsos a esvaziarem-se. E insinua-se o perigo do tédio.
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
Sou toda ouvidos
domingo, 25 de janeiro de 2009
Marcas do vazio - the end


Marcas do vazio




Marcas do vazio
Marcas do vazio

sábado, 24 de janeiro de 2009
Marcas do vazio


Marcas do vazio

Marcas do vazio

Marcas do vazio






Hi Ken!
Imagination, life is your creation
I'm a barbie girl, in the barbie world
[Aqua, Barbie Girl, 1997]
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
Marcas do vazio
Marcas do vazio

Marcas do vazio

«Toda a vida que se cumpre esgota a comunicabilidade onde quer que se anuncie. Assim, a hora da sua verdade não é uma hora de comício, mas de solidão final. A máscara que nos defende não tanto conta os outros como contra nós próprios (porque se nós a montamos não é tanto para que os outros nos identifiquem por ela, como para que nós acabemos de por ela nos identificarmos), essa máscara que é de comédia, ainda quando de tragédia, é bem vã nos instantes derradeiros de qualquer situação, porque então os olhos que nos vêem não nos vêem de fora mas de dentro. Ah, estar só é terrível.»
Marcas do vazio

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Lavar o mundo

Hoje chove muito, muito,
dir-se-ia que estão a lavar o mundo.
o meu vizinho do lado contempla a chuva
e pensa em escrever uma carta de amor
uma carta à mulher que vive com ele
e cozinha para ele e lava a roupa dele e faz
amor com ele
e parece sua sombra
o meu vizinho nunca diz palavras de amor à mulher
entra em casa pela janela e não pela porta
por uma porta entra-se em muitos sítios
no trabalho, no quartel, na prisão,
em todos os edifícios do mundo
mas não no mundo
nem numa mulher, nem na alma
quer dizer, nessa caixa ou nave ou chuva que chamamos assim
como hoje, que chove muito
e me custa escrever a palavra amor
porque o amor é uma coisa e a palavra amor é outra coisa
e somente a alma sabe onde os dois se encontram
e quando,
e como
mas o que pode a alma explicar?
por isso meu vizinho tem tormentas na boca
palavras que naufragam
palavras que não sabem que há sol porque nascem
e morrem na mesma noite em que amou
e deixam cartas no pensamento que ele nunca escreverá
como o silêncio que há entre duas rosas
ou como eu,
que escrevo palavras para regressar
ao meu vizinho que contempla a chuva
e à chuva
ao meu coração desterrado
Juan Gelman
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Bambu
Dias perfeitos hão-de vir, límpidos e de riso quente.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
Inspiro-te, expiro-nos

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
domingo, 18 de janeiro de 2009
A Falha

Quanto mais ralhas, mais gostas de mim
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
As manias da mulher nham nham
- 1) Flocos de cereais ao pequeno-almoço e café ao almoço. Dia que comece sem cereais não é um bom dia. Acordo sempre esfomeada e não há nada que me saiba melhor que os habituais cereais: Kellogg's Special K, All Bran Flakes ou Clusters. E almoço que não seja seguido de um café não tem o mesmo sabor. Além de que se passar um dia sem tomar um café, fico com uma bela dor de cabeça.
- 2) Lavar as mãos. Ando constantemente com as mãos na àgua. Sempre fui assim. Faço qualquer coisa e tenho logo, de seguida, de lavar as mãos. Quando visito alguém no hospital, devo ser das poucas pessoas que cumprem sempre a regra das mãos lavaditas.
- 3) Bruxismo. A palavra pode conduzir a interpretações esotéricas ou fálicas, mas não é mais do que a acção inconsciente de apertar ou ranger os dentes durante o sono. Para além de desgastar os dentes, o bruxismo pode provocar dores de cabeça. O meu dentista tratou de me tirar um molde da dentição e fazer-me uma goteira, para dar descanso aos dentes. E fiquei a saber que ele próprio também sofria de bruxismo. Segundo me disse, o número de "bruxistas" está a aumentar.
- 4) Não saio de casa sem colocar na mala uma garrafa de água, saquetas de bolachas ou barras de cereais. Faço isto desde os tempos da universidade. Aliás, virou a minha imagem de marca. Uma colega de curso dizia que, mais tarde, quando se lembrasse de mim, iria associar-me a uma garrafa de água e bolachinhas. Como me alimento pouco às refeições, o meu organismo não aguenta ficar muitas horas seguidas sem comer. Mulher prevenida evita crises de hipoglicémia.
- 5) Tenho vertigens. Descobri isso há muitos anos, ao passear nas muralhas de Óbidos. De lá para cá, as vertigens pioraram. Há dois anos foi um terror passear no Palácio da Pena, em Sintra. Como se alguma força invisível me atraisse para a queda. Horrível.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
Caverna

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
Fervor cardíaco
-Gosto de te ver assim…tombée en amour – diz ela.
- É um fervor cardíaco…eu é que não sei se gosto – retorque ele.
Somos tão idênticos nas inseguranças, homens e mulheres. Tão frágeis e cobertos de dúvidas, no amor recém-nascido. Sísifos a carregar certezas montanha acima. Certezas a rolar montanha abaixo, os ombros a esmorecer. Novos sinais [endireita os ombros, pá!] e toca a empurrar a esperança montanha acima.
Pensamos ser óbvios nos velados gestos que usamos para a denúncia do amor. Porém, aos olhos do outro, podemos não passar de figura obtusa. Queremos dizer amor [sentimos um tornado a revirar veias e ideias] e disfarçamos a nudez sentimental com eufemismos [digo ‘é bom ver-te de novo’ quando o que quero dizer é ‘senti tanto a tua falta, seu estúpido! não percebes que sem ti a minha vida não tem graça nenhuma?’]. Também utilizamos personificações [a minha caixa de correio tem saudades tuas], quando o que apetece é usar uma anáfora [amo-te, amo-te, amo-te]. Na nossa cabeça a dança de sinestesias intensas que não ousamos partilhar [quando o teu olhar me abraça, o teu sorriso sabe-me a mirtilos].
[ó senhor felpudo-que-não-come-gatos, vamos ver se não metemos água {e água é o elemento-chave}, para não afogar a liberdade. Cada um no seu aquário, claro está]
Até que uma flor de incêndio

A casa desabitada que nós somos
pede que a venham habitar,
que lhe abram as portas e as janelas
e deixem passear o vento pelos corredores.
Que lhe limpem os vidros da alma
e ponham a flutuar as cortinas do sangue
– até que uma aurora simples nos visite
com o seu corpo de sol desgrenhado e quente.
Até que uma flor de incêndio rompa
o solo das lágrimas carbonizadas e férteis.
Até que as palavras de pedra que arrancamos da língua
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
Jornalismo erectus

Fogo sem artifício


sábado, 10 de janeiro de 2009
Metamorfose
Teoria das Cores
Era uma vez um pintor que tinha um aquário com um peixe vermelho. Vivia o peixe tranquilamente acompanhado pela sua cor vermelha até que principiou a tornar-se negro a partir de dentro, um nó preto atrás da cor encarnada. O nó desenvolvia-se alastrando e tomando conta de todo o peixe. Por fora do aquário o pintor assistia surpreendido ao aparecimento do novo peixe.
O problema do artista era que, obrigado a interromper o quadro onde estava a chegar o vermelho do peixe, não sabia que fazer da cor preta que ele agora lhe ensinava. Os elementos do problema constituíam-se na observação dos factos e punham-se por esta ordem: peixe, vermelho, pintor — sendo o vermelho o nexo entre o peixe e o quadro através do pintor. O preto formava a insídia do real e abria um abismo na primitiva fidelidade do pintor.
Ao meditar sobre as razões da mudança exactamente quando assentava na sua fidelidade, o pintor supôs que o peixe, efectuando um número de mágica, mostrava que existia apenas uma lei abrangendo tanto o mundo das coisas como o da imaginação. Era a lei da metamorfose.
Compreendida esta espécie de fidelidade, o artista pintou um peixe amarelo.
Herberto Helder, in Os Passos em Volta
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
Sou toda ouvidos
Desde a infância que esta harmónica ficou presa nos ouvidos da minha memória. Tempos em que ainda via westerns. Um som perdurável. Inquietante. Com as grandes decepções, que ficam, em contínuo, a arranhar as cordas do coração. [Este post é para uma amiga maiúscula, que não merecia a arranhadela que a vida lhe está a dar].
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
Lucidez
domingo, 4 de janeiro de 2009
Ama como a estrada começa
