sexta-feira, 31 de julho de 2009

Redoma

Pencil Mask, de Rebecca Horn



Ela tinha sempre uma resposta na ponta do lápis.


(a afia do tempo, a lâmina)

Um dia, decidiu juntar todas as aparas dispersas....

...e só então aprendeu a desenhar pontos de interrogação.


terça-feira, 28 de julho de 2009

Ide a Braga, ide


Ora aqui está uma boa notícia, para quem, em Agosto, queira ir a Braga passar umas férias «low cost». A crise económica traz boas ideias. Tiro o tricórnio à Universidade do Minho.


Sou toda ouvidos



(E não é que o raio da música não me sai da cabeça?!)

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Destroço






Imagens do filme Dolls, de Takeshi Kitano


Tempo de destecer,
recolher
e voltar ao novelo.

Já foi tempo.
Já passou tempo.

Agora os meus olhos são do mundo
e não teus.
E sei que o mundo está além dos contornos
delimitados pela lava
da tua boca, do teu corpo, da tua palavra vã.

Os meus olhos estão acima das nuvens,
abaixo das raízes,
junto ao húmus.

Tu estás algures,
esbatido, numa moldura de cores polares.
Estás n’ O Mar de Gelo, de Caspar Friedrich.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Aterros sanitários


Anda por aí tanto cérebro português a funcionar como aterro sanitário, que até cheira mal. Primeiro, ouvimos um poço de inteligência a queixar-se que tem «brasileiros na cave só a fazer merda». Depois, há um outro mar de sapiência a dizer que «os pretos fazem muito mais porcaria que os brancos». Digam lá se isto não soa a invejite aguda de portuga com problemas de obstipação?




(Via Corta-Fitas)

Que ingénuos que nós somos


Chamem-lhe ingénua, chamem...
E claro que os 25 mil euros são para ajudar criancinhas...

domingo, 19 de julho de 2009

Acima e dentro

Imagem de Egil Paulsen

Primeiro, ofereci a uma amiga «A Espuma dos Dias», de Boris Vian. Agora, emprestei-lhe »A Ordem Alfabética», de Juan José Millás.

Comentário dela, no MSN, após terminar a leitura do livro do Millás: «Tu andaste a ler estes livros surreais na adolescência e depois ficaste "complicadinha". Livra, que não me arranjas um livro em que as personagens vivam felizes para sempre! Este agora foi viver para dentro de uma enciclopédia, eh eh eh».


Começo a levar a sério essa coisa de me dizerem que sou "complicadinha". E só posso anuir com a ideia de que há livros que, quando lidos muito cedo na nossa vida, nos afastam de pessoas, de carne e osso, planas. Começamos a viver com muitas personagens dentro, ainda que esquecidas e apropriadas pela corrente sanguínea. A nossa personalidade vai crescendo em profundidade. A banalidade entedia-nos. A literatura passa a correr-nos no sangue e esperamos dos outros nada menos que uma densidade literária. Passamos a ler os outros, como quem lê um livro. A metafísica abraça-nos.

De cada vez que sangramos, há personagens que choram connosco as mágoas. De cada vez que amamos, queremos inevitavelmente a metáfora, mas mais ainda o abraço, o beijo, o olhar. E a palavra.
Tudo bem real, como a pele ou o papel ou o sonhar acordado.

Mais do que me afastar das coisas simples da vida, a literatura ter-me-à preparado para as coisas complicadas deste mundo.


Dúvida higiénica

Alguém que me explique, por favor: qual a diferença entre, durante a distribuição da comunhão, um sacerdote dar a hóstia na boca dos fiéis ou colocar a hóstia na mão dos mesmos, se ambas as situações acarretam algum risco de contaminação? Que eu saiba a mãozinha do padre não escorrega pela garganta abaixo e deposita a hóstia directamente no estômago, pois não? Para quê, então, fazer passar a hóstia por duas mãos antes desta descer pela goela? É que vejo uma humana (e abençoada pelo Santíssimo) falta de higiene em qualquer um dos casos (basta haver toque da mão do padre com a do fiel ou basta o fiel ter dado um aperto de mão a alguém com Gripe A, antes de comungar). Lá que me dissessem que a hóstia ia passar a ser depositada na mão dos fiéis com algum utensílio tipo tenaz (igualmente um método falível) ou que as hóstias passariam a ser distribuídas em saquetas individuais, ainda perceberia...agora assim, não entendo não. Mas deve ser o calor a fritar-me os neurónios.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Voo

Imagem de Miminepo


«Com os meus amigos aprendi que o que dói às aves
Não é o serem atingidas, mas que,
uma vez atingidas,
O caçador não repare na sua queda.»

Daniel Faria

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Sou toda ouvidos

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Douradices





Tenho cá para mim que as cerejas de Resende, lavadas num fontanário público de Lamego, e comidas compulsivamente a caminho da Régua, deviam ter alguma substância psicoactiva. Primeiro foi o pezinho de dança suscitado pela escuta de um tema "franksinatriano". Depois, as metáforas nascidas nas cabecinhas de quatro almas que se abeiraram da barragem do Pinhão, a observar a abertura das comportas, para a passagem dos barcos. Isto é o que se chama de verdadeiras douradices (tradução: tolices inspiradas pelo Douro).


terça-feira, 14 de julho de 2009

Sou toda ouvidos

sábado, 11 de julho de 2009

Inversão do sentido



Régua e Lamego, 11.07.2009


sexta-feira, 10 de julho de 2009

Respigadura

Posts alheios dos quais não me alheio hoje:

Emparedados




Em «Home - Lar Doce Lar», de Ursula Meier, os rails de uma auto-estrada funcionam como objecto simbólico (falível) da separação das águas públicas/movimento/anonimato e das águas privadas/quietude/identidade. Viver ao lado de uma auto-estrada (ainda que com as obras paradas durante mais de uma década) representa, para esta família, um modo de isolamento. Não há ali cruzamentos, nem passadeiras; há marginalidade.

No filme, uma mulher emparedada antes de o ser literalmente, ao jeito das freiras que seguiam uma ordem religiosa de clausura extrema e eram confinadas, para toda a vida, a um pequeno espaço com quatro paredes. O rádio, o ponto de contacto desta mulher com a vida fora do reduto familiar. Uma filha que se fecha dentro de si mesmo, outra que se quer abrir ao mundo. Um miúdo à descoberta do que é ser mundo, no mundo. O caos exterior exacerba o caos interior. A resistência. A solidão, dos dois lados dos rails.


Este filme faz-me regressar ao livro «Não-Lugares: Introdução a uma antropologia da sobremodernidade», de Marc Augé. Este antropólogo francês define não-lugar como um lugar que não é relacional, nem identitário, nem histórico. Exemplos disso são as auto-estradas, os aeroportos ou as grandes superfícies comerciais.

«O que é significativo na experiência do não-lugar, é a sua força de atracção, inversamente proporcional à atracção territorial, ao peso do lugar e da tradição. Testemunhas desse facto são a precipitação dos automobilistas para as estradas, aos fins-de-semana ou nas férias, as dificuldades dos controladores da navegação aérea em dominar o engarrafamento das vias aéreas, o êxito das novas formas de distribuição. (...) Se os imigrantes provocam, nas pessoas instaladas, uma inquietação tão forte (e frequentemente tão abstracta), é provavelmente, e em primeiro lugar, porque lhes demonstram a relatividade das certezas inscritas no solo: é o emigrado que, na personagem do imigrado, os inquieta e fascina ao mesmo tempo».


quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sou toda ouvidos

Trilogia da tortura





Este é um post sobre como dois dias passados fora de casa podem deixar alguém sem dar uma passada. Sai uma pessoa com uns confortáveis mocassins calçados, mas um pontapé na rua, faz com que os ditos sapatos fiquem inutilizáveis. Digamos que foi por uma unha negra que não apareci num encontro de trabalho com os dedinhos do pé esquerdo a sorrirem para a senhora dona entrevistada.

O segundo trabalho da tarde estava à minha espera. Rapidamente passo por uma sapataria, para solucionar o meu problema. Eis que a pressa, aliada a uma valente falha dos neurónios, fazem-me comprar uns sapatos que são um escadote (não, não ia entrevistar deus ou os anjos ou arcanjos).

No dia seguinte, como não tinha levado mais nenhum par de sapatos, lá volto a calçar as torres amarelas. Aí vou eu, de metro, direitinha à baixa do Porto, para passar uma manhã a passear. Tortura. Engulo as dores a cada passo. Não tenho alternativa. Volto às sapatarias. Escolho umas sandálias baixinhas, baixinhas. Durante algum tempo, sinto-me no céu. Mas o mal já lá estava. O terceiro trabalho era só às 17h30. Almoço na Casa da Música, a que se segue sessão de cinema no Bom Sucesso e, por fim, o encontro ao final da tarde.

Não, não vou mostrar-vos os meus calcanhares. Posso só dizer que acho que nunca fiz tão rápido o trajecto Porto/casa. Acelerar doeu, se doeu.

Já vos falei dos meus calcanhares, não falei?

sexta-feira, 3 de julho de 2009

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Ganadaria




Bem que desconfiava que Parlamento e Campo Pequeno eram a mesma coisa... a diferença é que no Parlamento a Associação ANIMAL não mete a pata (perdoem a expressão).

P.S. "Arma de arremesso político" = bandarilha

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Mirrors

Imagem de Céline C


Mirrors are looking at me.
Mirrors that are words, friends advice, signs on the streets.
The essencial isn't catched by the mirrors.
No reflection.
Look inside, look ahead.
No words, no order, no ordeal.
Just to feel.


Coração com preço

Imagem de Amatorka


Quanto valeria o meu coração em leilão? Nunca me tinha ocorrido esta questão (bastante idiota, diga-se) senão agora, perante a compra do «Coração Independente Dourado». Esta obra de Joana Vasconcelos vale 192 mil euros. A arte tem este poder: faz-nos levantar questões até então muito horizontais.
Até os corações independentes têm um preço.
Mas e o meu coração? Alguém o desejaria comprar, com as suas taquicardias, (in)dependências afectivas ou histórias secretas? Algum escritor com falta de inspiração sentir-se-ia tentado a espreitar o músculo do meu sentir?
Quem o rematasse teria de estar ciente que, para me ler os batimentos, só com um electrocardiograma metafísico.


P.S. Deixo aqui um
link, especialmente para a Violet.