Ilustração de Gabriel Pacheco
Um poema de José Tolentino Mendonça. Porque hoje uma amiga regressou. Porque ela nunca partiu. Porque os amigos nunca partem, por maior que seja a distância geográfica. Porque foi muito bom voltar a abraçar um sorriso que é uma mesa posta em redor de uma lareira.
Uma canção debaixo do dilúvio
Ocupam-nos com a sua feroz solidão
e conhecemos o seu cheiro, o consumo difuso,
o visível de ambos os lados
Diante deles não é
Ocupam-nos com a sua feroz solidão
e conhecemos o seu cheiro, o consumo difuso,
o visível de ambos os lados
Diante deles não é
possível dissimular
a ironia ou a piedade
Esperam por nós entre diversas combinações
à superfície e para além disso
Um amigo é uma machine à habiter
o vento pré-histórico das montanhas geladas
Talvez pertençam a outros mundos
pois nos abraçamos sempre como sobreviventes
Com eles podemos arrancar uma canção
debaixo do dilúvio
a ironia ou a piedade
Esperam por nós entre diversas combinações
à superfície e para além disso
Um amigo é uma machine à habiter
o vento pré-histórico das montanhas geladas
Talvez pertençam a outros mundos
pois nos abraçamos sempre como sobreviventes
Com eles podemos arrancar uma canção
debaixo do dilúvio
José Tolentino Mendonça, in Estação Central