terça-feira, 30 de junho de 2009

After the happy end


Delicioso o trabalho Fallen Princesses, da fotógrafa Dina Goldstein
(via Bruaá Editora )
. Afinal há vida, e não múmias, para além dos finais felizes.

domingo, 28 de junho de 2009

Os silêncios da fala

Imagem de Elena Oganesyan


São tantos

os silêncios da fala

De sede
de saliva
de suor

Silêncios de sílex
no corpo do silêncio

Silêncios de vento
de mar
e de torpor

Depois há as jarras
com rosas de silêncio

Os gemidos
nas camas

As ancas
o sabor

O silêncio que posto
em cima do silêncio
usurpa do silêncio o seu magro labor


Maria Teresa Horta, in «Inquietude»



Sou toda ouvidos

Já cá canta o mais recente álbum de Rodrigo Leão: «A Mãe».
Para ouvir e ouvir e ouvir.


Filosofia de rua

terça-feira, 23 de junho de 2009

Canibalismos

«Restos fossilizados atribuídos aos primeiros europeus, descobertos no sítio arqueológico de Atapuerca (norte da Espanha), revelam que estes homens pré-históricos eram canibais que apreciavam a carne de crianças e adolescentes».

Bem vistas as coisas, isto não mudou assim tanto. Agora, em vez de canibais, chamam-lhes pedófilos. São «horas do Diabo», diz quem "trincou" uma miúda de 13 anos.
Os
13 anos parecem uma idade perigosa.


Queima controlada







Imagens do filme «A Desconhecida», de Giuseppe Tornatore


Exercício de amar: ensinar a levantarmo-nos do chão, mesmo quando estamos de pés e braços atados.

A infância ainda é tempo de simulação. A vida adulta ensina que não há condescendência para uma infância flor de estufa.

Proteger: entregar quem se ama a uma dor domesticável, no tempo das amoras subtraídas às silvas.

A queima controlada da inocência.




segunda-feira, 22 de junho de 2009

Afinal qual o berço?


A propósito da discussão sobre qual o local onde nasceu D. Afonso Henriques - Guimarães ou Viseu -, publico aqui um texto onde resumo as ideias expressas em «Viseu, Agosto de 1109, Nasce D. Afonso Henriques», tese defendida pelo historiador A. de Almeida Fernandes.


E se afinal D. Afonso Henriques tivesse nascido em berço viseense? Os manuais escolares ensinaram-nos a olhar para Guimarães e imaginar ser aquele o local onde D. Teresa terá dado à luz o primeiro rei português. No entanto, o historiador medievalista A. de Almeida Fernandes (nascido em 1917, em Britiande, Lamego, e falecido em Tarouca, em 2002) juntou provas documentais que atestam a possibilidade de D. Afonso Henriques ter nascido em Viseu, em meados de Agosto de 1109.


Este trabalho resultou de uma encomenda feita pela Unidade Vimarenense – Associação para o Desenvolvimento de Guimarães e sua Região. A associação pediu a A. de Almeida Fernandes que averiguasse onde nasceu D. Afonso Henriques, visto ter sido levantada a hipótese de Coimbra ser o berço do rei. A tese foi pela primeira vez publicada na Revista Beira Alta (1990-91) e em edição do Governo Civil de Viseu em 1993. A Fundação Mariana Seixas decidiu, em 2007, publicar, de novo, a tese de A. de Almeida Fernandes, uma vez que esta se encontrava esgotada.


A hipótese que defende que o nascimento de D. Afonso Henriques terá ocorrido em Guimarães carece de base documental. Então, por que se atribui à cidade minhota o berço do nascimento do primeiro rei português? Na obra «Viseu, Agosto de 1109, Nasce D. Afonso Henriques», A. de Almeida Fernandes alude que, na origem, poderá estar o facto de Guimarães ser palco dos principais acontecimentos de 1126-1128, iniciados no ano seguinte à iniciativa de D. Afonso Henriques se ter armado a si próprio cavaleiro, quando tinha 16 anos.


Segundo A. de Almeida Fernandes, Viseu guardava, desde a primeira metade do séc. X, a tradição de residência real e de verdadeira capital do reino. Do séc. XI para o XII, perante o alargamento dos domínios até ao Tejo, D. Henrique e D. Teresa tiveram necessidade de transferir para o sul do Douro a sua sede, a qual teriam em Guimarães. «Seria, pois, Viseu a residência mais naturalmente indicada – até porque na mais exposta Coimbra a densa moçarabia não lhes era convenientemente afecta. Se bem que existiam oposições moçárabes em todo o território ao sul do Douro, elas eram em Viseu praticamente nulas. Nota-se que, enquanto os ataques a Coimbra então, pelos Mouros, são frequentes, não se conta um a Viseu: muito maior segurança (…)», é descrito pelo historiador.

Almeida Fernandes defende ainda ser notória «uma grande predilecção de D. Teresa por Viseu, na correspondência ou em razão da dos Visienses por ela: a região é, largamente, aquela, em todo o Portugal de então, que mais actos e documentos de D. Teresa conta».

Tendo D. Afonso Henriques nascido em Julho ou Agosto de 1109 e estando D. Teresa nessa altura em Viseu, não restam, para o historiador, dúvidas de que Guimarães não acolheu o nascimento do primeiro rei português.


Em, «Viseu, Agosto de 1109», o historiador sustenta que D. Teresa não assistiu à morte nem às exéquias do pai, nem à cerimónia traditio super altare, em Coimbra, no regresso do conde D. Henrique da expedição a Sintra, tendo-se mantido em Viseu por uma razão: o nascimento do filho. Em sua substituição, D. Teresa mandou uma deputação representativa, «dando nela o lugar principal» a viseenses populares.


«Os indícios da residência de D. Teresa em Viseu depois do nascimento de D. Afonso Henriques são, pode dizer-se, directos (com manifestações em 1117, 1119 ou 1120, e 1127, pelo menos)», refere A. de Almeida Fernandes.


Têm sido publicados vários estudos relativos à figura de D. Afonso Henriques, propondo distintas teses sobre o seu local de nascimento. O historiador José Mattoso corrobora a tese defendida por A. de Almeida Fernandes. Na biografia «D. Afonso Henriques», Mattoso menciona que «a demonstração feita por Almeida Fernandes alcançou verosimilhança suficiente para se admitir como possível, ou mesmo a mais provável, até que outras provas sejam apresentadas em contrário». «É de facto admissível, com base nos documentos por ele invocados, que D. Afonso Henriques tivesse nascido em Viseu por meados do mês de Agosto de 1109», indica José Mattoso.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Quando o coração fala mais alto...

...em silêncio pode dizer-se tudo.


(via O Insecto...este escapou às mãos do Barack Obama)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Ó PETA vai-te encher de moscas

Imagem retirada da net

Perante isto, a reacção foi esta.

As moscas são tão queriduchas, amorosas mesmo. Será que a PETA se indigna se vir alguma alma maldosa a sacudir as moscas que teimam em pousar nas crianças subnutridas do continente africano ou nos pratos sobrenutridos dos países do primeiro mundo? É que as moscas estão carregadinhas de coisas boas: graciosidade, teimosia, bactérias.

É que nem convém sacudir as moscas, a bem da estabilidade emocional ou aerodinâmica das ditas. Podem ficam com stress pós-traumático. E uma mosca stressada pode perder a capacidade de disseminar doenças por aí.

Verão a conta-gotas

Ainda não vos disse que não gosto de trovoada a ribombar mesmo por cima de mim, nem de helicópteros (em particular do INEM) a voarem baixinho, quase a roçarem o meu telhado, quando estou a adormecer, pois não? Idiossincrasias.
Um dia após a minha inauguração particular do Verão, aí está a trovoada e a chuvinha. E o calor abafado. Ora toma que é para aprenderes que as calças são fiéis amigas, quase tão fiéis como a brancura da pele. Mas antes isso que ser protagonista do filme "Magnólia" ou morar no Japão. Não gosto de engolir sapos, é só por isso.

Sei que vou gostar do cheiro a terra molhada. E do apaziguar chilreante dos céus.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

É oficial: o Verão entrou em mim


Vestir uns calções representou, hoje, a minha inauguração oficial do Verão. Lembrei-me de um excerto de «Orlando», de Virgínia Woolf:

«Por muito fúteis e insignificantes que pareçam, as roupas têm (...)outras e mais importantes funções que simplesmente a de nos aquecer. Modificam a nossa visão do mundo e a visão que o mundo tem de nós.(...)

Não faltam, portanto, argumentos em favor da ideia de que são as roupas que nos usam e não nós a elas; podemos talhá-las segundo o molde do nosso braço ou do nosso peito, mas são elas que moldam a seu bel-prazer os nossos corações, os nossos cérebros, as nossas línguas.(...)

Se compararmos o retrato de Orlando homem com o de Orlando mulher, veremos que, embora os dois sejam indubitavelmente uma mesma e única pessoa, são de assinalar certas mudanças. O homem tem a mão livre para empunhar a espada, a mulher vê-se obrigada a usar a sua para impedir os cetins de lhe descaírem dos ombros. O homem olha de frente para o mundo, como se este fosse feito para seu usufruto e talhado a seu gosto. A mulher deita-lhe um olhar enviesado, cheio de subtileza, ou mesmo desconfiança. Se usassem os dois as mesmas roupas, é possível que a sua visão do mundo fosse a mesma».

Diz o coxo do manco



«O país cansou-se dessa arrogância que não é uma questão de forma, é de essência. O país cansou-se do excesso de propaganda e do défice de autenticidade».


[Será que ele se ouve a ele próprio ou será surdo que nem uma porta? Já agora,alguém sabe explicar-me por que razão se diz que uma porta é surda? É que uma mesa também será surda e ninguém usa a expressão: surda que nem uma mesa! E não acredito que a expressão tenha sido criada a pensar na família Portas.
Outras coisas se atribuem às portas, mas fico-me pela surdez]

Sou toda ouvidos

terça-feira, 16 de junho de 2009

Difamação II



O Tribunal de S. Pedro do Sul condenou dois jornalistas pelo crime de difamação, a propósito de uma notícia que fazia menção ao próprio Tribunal de S. Pedro do Sul. Ironias.



Viseu, 15 Jun (Lusa) - O Tribunal de S. Pedro do Sul condenou hoje, pela segunda vez, a ex-directora e um antigo jornalista do Jornal do Centro, publicado em Viseu, pelo crime de difamação.


Em causa está uma notícia da edição de 13 de Setembro de 2002 sobre a alienação de mobiliário antigo do Tribunal Judicial de S. Pedro do Sul, com o título de primeira página “Misericórdia sob suspeita”.


A notícia foi escrita pelo então jornalista Fernando Giestas e o editorial, onde era feita alusão ao assunto, pela antiga directora Isabel Bordalo.


Fernando Giestas foi condenado à pena de 270 dias de multa e Isabel Bordado a 290 dias, à taxa diária de sete euros, o que totaliza 1.890 e 2.030 euros, respectivamente.


Foram também condenados a pagarem solidariamente ao secretário de Justiça a exercer funções naquele tribunal, José Barros, e à Santa Casa da Misericórdia de S. Pedro do Sul 3.500 euros de indemnização civil.


Ambos tinham já sido condenados pelo Tribunal de S. Pedro do Sul e recorreram para o Tribunal da Relação de Coimbra, que mandou repetir o julgamento.


Depois de sete meses de julgamento, o tribunal voltou a condená-los, por considerar que “quiseram lançar a suspeita de que o responsável pelo processo de alienação do mobiliário antigo”, José Barros, tinha, “ao arrepio dos critérios legais”, favorecido a Santa Casa da Misericórdia relativamente a outras instituições e associações do Concelho.


O tribunal entendeu que “quiseram levantar a suspeita de que parte dos móveis entregue à Santa Casa da Misericórdia de S. Pedro do Sul foram depois entregues a funcionários” do próprio tribunal ou da instituição.


*Considerou também que quiseram lançar a suspeita de que José Barros “decidiu atribuir a maioria das peças de mobiliário” à Santa Casa “porque tinha a garantia de que, se assim acontecesse”, posteriormente esta “doaria alguns desses bens aos funcionários que nessa altura trabalhavam no Tribunal Judicial de S. Pedro do Sul”.


Para o tribunal, a “suspeita levantada pelos arguidos não tinha qualquer fundamento”, porque José Barros não estava obrigado a contactar todas as instituições e até colocou os móveis no átrio de entrada e corredor do tribunal para que as instituições escolhessem os que queriam receber.


Refere que, apesar de terem recebido esclarecimentos do provedor da Santa Casa da Misericórdia e da Direcção Geral da Administração da Justiça, que negaram entrega dos móveis a funcionários, “não se inibiram os arguidos de publicarem tais notícias”.


“Os arguidos tinham conhecimento de que muitos leitores apenas lêem e retêm a informação constante dos títulos das notícias que são publicadas”, considera o tribunal.


O tribunal valorou os depoimentos das testemunhas de acusação, por se lhe terem afigurado “isentos e verdadeiros”. Já no que respeita às de defesa, entendeu que, à excepção de duas, as restantes, ”por uma razão ou outra, prestaram depoimentos subjectivos e parciais, tentando desresponsabilizar os arguidos”.


“Os arguidos terão feito o que estava ao seu alcance para apurar os factos. Efectivamente, terão dado os passos certos. Porém, com o material que tinham não podiam ter produzido os artigos que escreveram”, defende o tribunal.


Sara Marques, advogada do grupo Sojormedia (que publica o Jornal do Centro), disse à Agência Lusa que pretende mais uma vez recorrer da decisão.

AMF
Lusa/fim


* Eu estou pitosga (mesmo com óculos postos) ou em momento algum da notícia do Jornal do Centro é lançada esta suspeita sobre José Barros?! Já li o texto do Fernando Giestas e o editorial uma data de vezes e não vi os jornalistas a "acusarem" o secretário de Justiça de querer doar o material à Santa Casa da Misericórdia com o intuito de esse mesmo material vir a ser doado a funcionários do tribunal. Já nem entro noutros pormenores. Apenas neste, que não me parece ter laivos de subjectividade.

Esta notícia, escrita por Fernando Giestas, funcionou como serviço de utilidade pública: explicou aos leitores (incluindo as associações locais) como funciona o processo de alienação de mobiliário de um tribunal. Saiu caro.


Difamação I




Património do Tribunal alienado apenas a algumas associações

Suspeitas sobre a Misericórdia de S. Pedro do Sul


O Tribunal de S. Pedro do Sul remodelou a maioria do mobiliário que possuía desde a inauguração, em 1973. Mobilado de novo, o tribunal teve que alienar os bens antigos. Foi o que fez. Algumas associações e instituições públicas do concelho receberam mobiliário. A maioria não recebeu. A Misericórdia de S. Pedro do Sul foi a instituição que obteve o maior número de bens. Metade do mobiliário. Sobre a instituição recaem suspeitas de que parte do mobiliário recebido foi parar a casas particulares.

Texto Fernando Giestas

A lei determina que, em caso de alienação de bens de um tribunal, as associações locais sejam contactadas directamente. Não há lugar a anúncio público. Foi o que aconteceu. Algumas associações tomaram conhecimento da alienação do mobiliário do Tribunal de S. Pedro do Sul. Outras não. De todas as instituições públicas ou associações do concelho, apenas seis receberam mobiliário. Estabelecimento Prisional Regional, Posto da GNR, Misericórdia, Grupo de Teatro Cénico, Centros Sociais de Valadares e de Vila Maior.
A disparidade das peças de mobiliário atribuídas a cada uma das instituições também não é aceite de forma pacífica em S. Pedro do Sul. A Misericórdia recebeu 34 bens; o Estabelecimento Prisional recebeu 17; o Centro Social de Valadares recebeu 6; o Posto da GNR recebeu 5; o Centro Social de Vila Maior recebeu 4; o Cénico recebeu 3.
O facto de a Misericórdia de Santo António ter sido a instituição com mais bens atribuídos causa estranheza a responsáveis de outras associações locais. Dos 69 bens, a Misericórdia recebeu 34. Das três dezenas de peças, há suspeitas de posse indevida por parte de particulares.

Alienação “está nas mãos” do secretário
Fonte da Direcção-Geral da Administração da Justiça (DGAJ) explicou ao Jornal do Centro o procedimento a seguir em caso de alienação de mobiliário de um tribunal. Depois de nenhum serviço da administração pública ter mostrado interesse no mobiliário, “os bens são considerados disponíveis para alienação, designadamente a título gratuito”. Depois é o secretário de justiça do tribunal a dar seguimento ao processo. “Consulta directamente as entidades da localidade, propondo a alienação gratuita às que se mostrem interessadas”. É o que determina o decreto-lei 307/94, de 21 de Dezembro. Um diploma vago, que não estabelece critérios de selecção, nem estipula anúncio público. Todo o processo fica sob a responsabilidade do secretário de justiça do tribunal. Um funcionário determina quem recebe e quem não recebe, sem grandes constrangimentos legais.
A fonte da DGAJ contactada pelo Jornal do Centro reconhece que “está na mão do secretário de justiça” definir os parâmetros da alienação, mas garante que o procedimento previsto na lei foi assumido pelo Tribunal de S. Pedro do Sul. O responsável garante que não tem conhecimento de nenhuma reclamação até à data, de nenhum processo de alienação de bens de um tribunal. “Normalmente, até há dificuldade em arranjar instituições que recebam o mobiliário”, dado o mau estado em que se encontram as peças.
O secretário de justiça do Tribunal de S. Pedro do Sul, José Martins de Barros, entra em contradição com o responsável da DGAJ quando diz que a alienação do mobiliário “não foi comunicada” a nenhuma instituição. As entidades “apareceram” e solicitaram os bens. Martins de Barros considera que o processo se resume a uma “questão de raciocínio”: as associações viram o mobiliário à entrada do tribunal e solicitaram os bens que interessavam.

Hóquei Clube considera-se excluído
Algumas associações do concelho de S. Pedro do Sul lamentam não ter sido informadas da alienação do mobiliário antigo do tribunal. O presidente do Termas Hóquei Clube, Joaquim Cardoso, faz uma acusação mais grave. Teve conhecimento “de que havia material para ser dado”, endereçou “uma carta ao secretário judicial do Tribunal de S. Pedro do Sul a solicitar mobiliário”, mas a “carta ficou sem resposta”. “Posteriormente, soube que a maior parte dos bens foi dada à Misericórdia”. Joaquim Cardoso está na disposição “de questionar o Ministério Público acerca dos destinos do mobiliário”. O presidente da Associação Cultural e Recreativa de Arcozelo (ACRA), Jorge Manuel Pereira, “soube a posteriori” da alienação de mobiliário. “Não chegou qualquer tipo de informação, senão também nos candidatávamos”.
Outra colectividade local, o grupo Alafum, também não tomou conhecimento do processo. José Fernando, responsável do Alafum, “teve conhecimento há dias, por um amigo”. Parte do mobiliário que o tribunal alienou “seria útil para guardar o espólio do grupo. Dava jeito”, lamenta José Fernando.


Caixa do texto principal, da responsabilidade do colega José Guilherme Lorena (que não foi constituído arguido):

Parte dos móveis “escavacados”
Misericórdia nega oferta a funcionários do tribunal


O provedor da Misericórdia de S. Pedro do Sul, Manuel Paiva, faz uma expressão de espanto quando é questionado sobre se alguns dos móveis ofertados pelo tribunal da comarca local terão sido dados a funcionários daquela instância judicial: “Não é verdade. Nenhum do mobiliário que recebemos foi oferecido a funcionários do tribunal.”
A garantia de Manuel Paiva é dada depois de confirmar a recepção de móveis antigos do tribunal: “Perguntaram-nos há uns meses se aceitávamos móveis. Respondemos positivamente, mas levou meses a decidir a doação. Temos aqui grande parte do material recebido”, diz Manuel Paiva, acrescentando que algum mobiliário foi “dado a funcionários” da Misericórdia e a “pessoas necessitadas”.
“A maior parte das secretárias que nos deram está toda escavacada. Só estão melhores os bancos corridos e os armários”, sustenta Manuel Paiva. Questionado sobre o número dos móveis recebidos, Paiva não se recorda, mas duvida que tivesse ultrapassado as 30 unidades. “Eu sei lá, vieram algumas coisas que estão para aí espalhadas, para além das que demos a quem precisasse”, afirmou.

“Nada” a esconder
Sobre a denúncia de outras associações do concelho, que consideram ter ficado excluídas do processo de distribuição de distribuição do mobiliário, Manuel Paiva diz estar “à vontade”. “Não pedimos nada e se alguém precisar de móveis pode vir cá à Misericórdia que nós oferecemos”, promete. Paiva adianta mesmo que têm sido emprestadas peças (bancos corridos, por exemplo) a outras instituições do concelho: “Os organizadores do ‘Andanças’ levaram alguma coisa há dias”, recorda.
Perante o pedido de serem vistos os móveis, Manuel Paiva concorda e, à vontade, diz que “nada há a esconder”. E conduz o Jornal do centro ao salão contíguo ao refeitório da instituição, onde se contam quatro secretárias, dois armários e um banco corrido. “O resto foi dado a quem precisasse e anda por aí emprestado, para além de outras peças melhorzinhas que aproveitámos para a Misericórdia. Mas se quiserem ver tudo, eu arranjo maneira de reunir o que o tribunal nos deu”, diz Manuel Paiva, acrescentando não se “importar” com as denúncias de favorecimento do organismo que dirige.
E repete, por mais que uma vez: “Se alguma associação quiser mobiliário pode vir cá que nós damos!” /J.G.L.




Editorial

Injustiças

O Tribunal de S. Pedro do Sul recebeu mobiliário novo. E teve que se desfazer do velho.
Há um norma legal que estabelece que em caso de alienação de mobiliário pertencente a um tribunal, a Direcção-Geral da Administração da Justiça procura, num primeiro momento, a afectação do material a outro tribunal mais carenciado.
Se nenhum quiser, indaga outros serviços no Ministério da Justiça.
E caso aí também não haja interessados, a Secretaria-Geral comunica à Direcção-Geral do Património do Estado para verificar se existe alguma entidade da administração pública que precise dos móveis.
Se nenhum serviço do Estado estiver interessado, o mobiliário é dado a instituições da localidade onde está o tribunal. Neste caso S. Pedro do Sul.
Muito bem.
Só que o mesmo diploma que define, com extremo rigor, o percurso a fazer até esgotar os interessados na administração pública não usa, do mesmo rigor, na alienação a entidades exteriores ao Estado.
Pega-se no mobiliário e entrega-se.
Sem concurso público.
Sem critérios de distribuição.
Sem preocupação em levar a informação a todas as entidades eventualmente interessadas. Todas mesmo.
E concentram-se peças numa só mão. Sabe-se lá porquê. E em nome de quê.
Não admira que as suspeições se levantem.
Não admira que as queixas se sucedam.
Não admira que a justiça se transforme em injustiça.
Isto quando bastava levar a preocupação um pouco mais longe.

Isabel Costa Bordalo

domingo, 14 de junho de 2009

Respirar

Desenho de Rui Chafes



Respirar-te mais próximo.
Pulmonar este sentir
que te faz navegante no meu sangue.


Chorem, amigos, chorem

Imagem de Federico Bebber


Ai não querem chorar? Não?

O problema é vosso.




sexta-feira, 12 de junho de 2009

Vício



Estou completamente viciada em Zafón. Entrei com desconfiança na obra de Carlos Ruiz Zafón. Resultado: devorei «A Sombra do Vento» e embrenhei-me, com avidez, em «O Jogo do Anjo». Quando desconfiamos da nossa própria desconfiança, às vezes, temos boas surpresas.


«- É verdade que nunca leste nenhum destes livros?
- Os livros são aborrecidos.
- Os livros são espelhos: só se vê neles o que a pessoa tem dentro - replicou Julián».

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Pátria minha

terça-feira, 9 de junho de 2009

Para além da espuma dos dias




Amor não é um frasco de mel que se compra no supermercado. É mais a acção de enfrentar a picada da abelha, para ir directamente à colmeia buscar a pureza do mel. Podem começar a dizer que hoje só falta a mulher nham nham pôr os violinos a tocar. Soubesse eu tocá-los. A verdade é que nunca vou achar que uma história de amor é lamechice (não confundir com demonstrações públicas de desejo, daquelas bem melosas e pegajosas).

Gosto da construção do amor, dos andaimes suspensos, do cimento do tempo. Não acredito no instantâneo, nem em arquitecturas perfeitas. Sei - saberemos todos - que amar não é necessariamente igual a ter uma relação amorosa: nem sempre temos um compromisso relacional com quem amamos; nem sempre amamos quem namoramos. A raridade é conseguir conciliar, harmonizar, o estado de alma com o estado civil. E fazer perdurar.

Uma relação amorosa pode ser apenas isso mesmo: uma relação amorosinha, fofa, boa para dias de sol, boa para espairecer, boa para posar nas fotos dos casamentos dos amigos, boa enquanto a vida é boa (o que já não é mau). Mas o amor vai para além do peluche, vai para além do "tudo corre bem enquanto a vida vai boa".

As relações apenas fofas normalmente não sobrevivem aos dramas.O meu irmão terminou uma relação, que já levava seis anos, porque afinal sentiu que um namoro fofinho não lhe chegava. Percebeu que, perante a doença da mãe, precisava de uma mulher que lhe desse força e amor e não de uma jovenzinha que amuasse perante a falta de vontade dele para passeios. O meu irmão deixou de ver futuro ao lado uma jovem sempre com cara de "toda a gente me deve e ninguém me paga", uma rapariga que agia como se a minha mãe estivesse internada no hospital por causa de uma constipação e não por causa de um cancro colo-rectal.

Quando a vida não corre bem é preciso mais que paixão para segurar um relacionamento. Por isso, comovi-me com o mail, que me enviaram, com a história de Katie Kirkpatrick e Nick Godwin. Tratei de reencaminhar, para alguns amigos, o mail intitulado «O amor tudo pode». Recebi hoje uma resposta. A resposta de um homem. Partilho aqui porque sim. E porque gosto de ver homens sem medo de dar palavras aos sentimentos.



«Pensei logo na imagem de Chloé que Boris Vian nos dá em “A espuma dos dias”. Uma Chloé deitada com o seu vestido de noiva, mergulhada no perfume das flores que a cercam e um Nenúfar crescendo insidiosamente no seu peito, anunciando a morte numa narrativa surreal e desconfortável.


Assim, talvez entendas os sentimentos que se misturam meteóricos no cruzamento de palavras e contextos. É certo que acredito no Amor...se acredito... Mas custa-me ver partir aqueles que se embrenharam nos meus dias, com uma qualquer flor cravada em segredo nos seus corpos.


E eu que gosto de flores, como o narciso que rompe a terra fria, anunciando em Março o fim da Invernia.

Um beijo»

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Que não seja literalmente




«Gestores dizem que sector da aviação vai continuar a cair»


O Público com queda para títulos carregados de humor negro.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Sou toda ouvidos





Misery is a butterfly, Blonde Redhead

Dearest Jane I should've known better
But I could'nt say hello, I didnt know why
But now I think, I think you were sad
Yes you were, you were, you were

What I say, I say only to you
Cause I love and I love only you
Dearest Jane, I want to give you a dream
That no one has given you

Remember when we found misery
We watched her, watched her spread her wings
And slowly fly around our room
And she asked for your gentle mind

Misery is a butterfly
Her heavy wings will warp your mind
With her small ugly face
And her long antenna
And her black and pink heavy wings

Remember when we found misery
We watched her, watched her spread her wings
And slowly fly around our room
And she asked for your gentle mind

Miséria

Imagem de Simona Carli



Tostões contadinhos por mãos àsperas, calejadas. A alma puída, de tanto pensar na sobrevivência. Medo da fome. Miséria. Filhas. Vaginas. Vaginas que hão-de ter alguma utilidade. O querer, o prazer, que o tenham quando casarem com alguém que as sustente. Sexo de conveniência, consentimento materno, verdade inconveniente.Queimaram-se as asas da inocência. Senhor feudal, vassalagem. Ora dê cá as filhas, ora tome lá o cajado para o marido.

Se eu fosse radical, diria que isto não andará assim tão longe disto. Se fosse radical diria que a diferença será uma questão de maquilhagem. Mas não, não vou ser radical.

A estátua mais bem paga do país

Imagem de Alan Peeler



«O El País, no último domingo, trazia uma notícia com o seguinte título: "Banca a la deriva en Portugal". De facto, os casos BPP e BPN são uma vergonha. E a nossa supervisão bancária também.

Os banqueiros implicados devem ser postos a ler livros debaixo do mesmo tecto que abriga o senhor Oliveira Costa.

E o Banco de Portugal precisa de novo governador. Deste já chega.

Vítor Constâncio é a estátua mais bem paga do país.

Ficou imóvel durante anos enquanto os bancos atropelavam os clientes nos arredondamentos dos juros.

A sua quietação não conheceu nenhuma inquietação durante os anos de gatunagem no BPN. E isso ficou caro ao país. Muito caro.

Já chega».


Alex, o pensador de Rodin, dixit.
[ponho o link?]

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Vermelho








«O verme diz-nos que é preciso estar imóvel
O peixe diz-nos que é preciso fluir
A flor diz-nos que a beleza é silenciosa
Mas nós não sabemos pousar numa folha verde
nem deslizar sobre a água como um cisne
Perdemos o ouvido branco e o ouvido verde
com que ouvíamos as tranças e as rendas naturais
e não temos a noção da redondez dos pés (...)»


[António Ramos Rosa, in Deambulações Oblíquas]


quarta-feira, 3 de junho de 2009

Até a mãe estranha...

Juro, mas juro mesmo, que não queria - pelo menos enquanto ela não perder a virgindade em directo na TV - voltar a falar na Floribela com espírito clubístico. Mas o amigo Alex picou-me e mandou esta preciosidade.

Dreamtime

Imagem de Speranskaya Mikaella

A minha vida não está perfeita (o verbo estar assume aqui um pendor menos fatalista, ou determinista, que o verbo ser). Mas o que sou pode surpreender-me. E é tão bom, tão bom, tão bom, não perder a capacidade de me surpreender a mim mesma. E é tão bom, mas mesmo bom, descobrir ocasionalmente que há algo que nos faz revirar por dentro, quando a vida não está perfeita e se anda murcho, algures entre a rinite e a sinusite e próximo de outras doenças de gravidade incomparável.

Descobrir, de súbito, o que queremos mesmo fazer na vida, fazer da vida, fazer com vida, traz um entusiasmo inesperado. Espero que este entusiasmo não seja passageiro, como as nuvens, mas que crie raízes para consolidar o sonho que me caiu no regaço.

Às vezes, andamos às apalpadelas, temos uma ideia etérea na cabeça, e de repente: eis, é mesmo isto. E só nos espantamos por não termos visto, há muito e com toda a clareza, o que é óbvio. Não há nariz obstruído que me tire o sorriso do peito. Por isso, nada como uma música com power para alimentar este estado de espírito.




E se ficasse sem a sua ciberhorta?


Imperdível o texto «E se de repente lesse "o seu blog não está mais disponível"?» , no Certamente!, de Paulo Querido.

«Existe um perigo em entregar o nosso trabalho à “nuvem”. É bom que comecemos a avaliar os riscos da produção de conteúdos online. Quantas vezes aquilo que começa como um despretensioso blog vai crescendo até se tornar num caso sério, e pensamos em todas as horas ali metidas, e em todo o valor gerado com a comunidade, e pensamos nos laços (e também nos links).
O desaparecimento do 360º é o desaparecimento de 10,8 milhões de páginas e 3 milhões de links que subitamente deixarão de levar a algum lado. E estamos a falar e um serviço com a morte decretada há 18 meses.
Se o Blogspot fizesse o mesmo, 16 milhões de blogs fechavam. 420 milhões de páginas sumiam-se dos arquivos e dos motores de busca. 70 milhões de links seriam inutilizados. Pense em quantas das suas horas de dedicação eram evaporadas. Pense nisso na próxima vez que abrir um blog ou plantar a semente da sua marca num terreno sobre o qual não tem nem jurisdição nem controlo».