Amor não é um frasco de mel que se compra no supermercado. É mais a acção de enfrentar a picada da abelha, para ir directamente à colmeia buscar a pureza do mel. Podem começar a dizer que hoje só falta a mulher nham nham pôr os violinos a tocar. Soubesse eu tocá-los. A verdade é que nunca vou achar que uma história de amor é lamechice (não confundir com demonstrações públicas de desejo, daquelas bem melosas e pegajosas).
Gosto da construção do amor, dos andaimes suspensos, do cimento do tempo. Não acredito no instantâneo, nem em arquitecturas perfeitas. Sei - saberemos todos - que amar não é necessariamente igual a ter uma relação amorosa: nem sempre temos um compromisso relacional com quem amamos; nem sempre amamos quem namoramos. A raridade é conseguir conciliar, harmonizar, o estado de alma com o estado civil. E fazer perdurar.
Uma relação amorosa pode ser apenas isso mesmo: uma relação amorosinha, fofa, boa para dias de sol, boa para espairecer, boa para posar nas fotos dos casamentos dos amigos, boa enquanto a vida é boa (o que já não é mau). Mas o amor vai para além do peluche, vai para além do "tudo corre bem enquanto a vida vai boa".
As relações apenas fofas normalmente não sobrevivem aos dramas.O meu irmão terminou uma relação, que já levava seis anos, porque afinal sentiu que um namoro fofinho não lhe chegava. Percebeu que, perante a doença da mãe, precisava de uma mulher que lhe desse força e amor e não de uma jovenzinha que amuasse perante a falta de vontade dele para passeios. O meu irmão deixou de ver futuro ao lado uma jovem sempre com cara de "toda a gente me deve e ninguém me paga", uma rapariga que agia como se a minha mãe estivesse internada no hospital por causa de uma constipação e não por causa de um cancro colo-rectal.
Quando a vida não corre bem é preciso mais que paixão para segurar um relacionamento. Por isso, comovi-me com o mail, que me enviaram, com a história de Katie Kirkpatrick e Nick Godwin. Tratei de reencaminhar, para alguns amigos, o mail intitulado «O amor tudo pode». Recebi hoje uma resposta. A resposta de um homem. Partilho aqui porque sim. E porque gosto de ver homens sem medo de dar palavras aos sentimentos.
«Pensei logo na imagem de Chloé que Boris Vian nos dá em “A espuma dos dias”. Uma Chloé deitada com o seu vestido de noiva, mergulhada no perfume das flores que a cercam e um Nenúfar crescendo insidiosamente no seu peito, anunciando a morte numa narrativa surreal e desconfortável.
Assim, talvez entendas os sentimentos que se misturam meteóricos no cruzamento de palavras e contextos. É certo que acredito no Amor...se acredito... Mas custa-me ver partir aqueles que se embrenharam nos meus dias, com uma qualquer flor cravada em segredo nos seus corpos.
E eu que gosto de flores, como o narciso que rompe a terra fria, anunciando em Março o fim da Invernia.
Um beijo»
Um beijo»
2 comentários:
Sempre achei que um amorzinho faz a Primavera. Mas não chega para os dias de Inverno...
Miguel, não resumiria de melhor forma a ideia contida no meu post :)
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