quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Porta aberta


Será que a força da intuição nos faz adivinhar o caminho, mesmo desconhecendo aonde queremos chegar?

Sabemos sempre quando chegámos a casa? Saberemos?

Quero tanto que esta porta se abra sempre para mim.
Quero.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Solar

Imagem de Eliot Lee Hazel

Fomos almoçar àquele sítio de que não gostas particularmente. Um restaurante com comida bem feita, mas sem espaço para conversas íntimas. Mostraste-me um sms que o teu amor te enviou. Mostraste-me fotos do teu amor, de ti com ele, do beijo que vos coloca uns metros acima do chão. Contaste-me que lhe ofereceste uma carta de amor, no aniversário dele. Coisa em desuso, feita para amores que se querem eternos, como flores secas colocadas no meio das páginas de um livro. Eu tenho um trevo de quatro folhas aninhado nas páginas de «Doidos e Amantes», de Agustina Bessa-Luís. Já o tive no meio do livro «Eu espero...», de Davide Cali e Serge Bloch.


És um nico de gente, de estatura pequena, magrinha, que tenta esconder a feminilidade e sensibilidade no pragmatismo da notícia pura e dura. Eu disse que tentas. A mim não me enganas. Aprendi a ler-te para além da frieza que às vezes atiras para o colo dos que te rodeiam. Não dás confiança a quem não te interessa. Há coisas que lês, nos astros e nos gestos, que te fazem afastar de quem não acrescente interrogações à tua vida.


No final do almoço, disseste que me ias enviar a carta de amor que escreveste numa tarde febril, enrolada num cobertor. E enviaste. O teu amor, ao ler a carta, só podia mesmo ter virado nuvem com ânsias de chuva. E eu, ali, naquele momento em que os meus olhos chegaram ao ponto final do último parágrafo, fiquei comovida. Partilhaste-te comigo, sem medos. Deixaste que te visse despida, que te visse menina-mulher solar. Deixaste-me ver que um homem conseguiu resgatar, em ti, a criança que tu julgavas perdida. Tive a certeza que éramos amigas.

E, por isso, fui ter contigo, à tua secretária, e dei-te um beijo na face espantada.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

As minhas paredes até sorriam

«You make my heart sing»


« Dreams are my reality»




Qualquer uma destas serigrafias da Ana Ventura faria as minhas paredes sorrir.

(e sim, não é a primeira vez que falo nestas duas delicadezas)


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Quando é que se põem a andar, hein?


Caras saudades, ponham-se andar, sim?
Têm ordem de despejo. Saem a bem ou mal? Vou contar até três.


Um....

...........Dois

................................

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Amar o casamento

O Casal Arnolfini, de Jan van Eyck



«O casamento feliz não é nem um contrato nem uma relação. Relações temos nós com toda a gente. É uma criação. É criado por duas pessoas que se amam.

O nosso casamento é um filho. É um filho inteiramente dependente de nós. Se nós nos separarmos, ele morre. Mas não deixa de ser uma terceira entidade.

Quando esse filho é amado por ambos os casados - que cuidam dele como se cuida de um filho que vai crescendo -, o casamento é feliz. Não basta que os casados se amem um ao outro. Têm também de amar o casamento que criaram.

O nosso casamento é uma cultura secreta de hábitos, métodos e sistemas de comunicação. Todos foram criados do zero, a partir do material do eu e do tu originais».


Excerto de uma crónica de Miguel Esteves Cardoso, publicada no Público. E lida aqui, na íntegra.

Sou toda ouvidos

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Sou toda ouvidos

Dúvida

Imagem de Gregory Credwson

«O que é a Dúvida? Cada um de nós é como um planeta. Há a crosta, que parece eterna.

Estamos confiantes acerca de quem somos. Se nos perguntarem, sabemos descrever de imediato o nosso estado actual. Eu sei as minhas respostas para muitas perguntas, tal como vocês. Como era seu pai? Acredita em Deus? Quem é o seu melhor amigo? O que quer? As vossas respostas são a vossa topografia actual que parece ser permanente, mas que é enganadora. Porque debaixo dessa face de respostas fáceis, existe um outro Eu. E esse Ser sem palavras move-se como se move o instante que passa; pressiona para vir à superfície sem qualquer explicação, fluído e sem palavras, até que a consciência que resiste, não tem outra alternativa senão ceder.

É a Dúvida (vivida muitas vezes no início como fraqueza) que faz as coisas mudar. Quando um homem se sente inseguro, quando vacila, quando um saber arduamente conquistado se evapora diante dos seus olhos, é quando está no limiar do crescimento. A reconciliação, subtil ou violenta, da pessoa exterior com o seu íntimo parece muitas vezes, no início, um erro, como se avançássemos na direcção errada e nos perdêssemos.Mas isso não é senão a emoção que anseia pelo que lhe é familiar. A vida acontece quando o poder tectónico da nossa alma silenciosa irrompe através dos hábitos estagnados da nossa mente. A Dúvida não é mais do que uma oportunidade de reentrar no Presente. (...)

A Dúvida requer mais coragem do que a convicção, e mais energia; porque a convicção é um lugar de repouso e a dúvida é infinita - é um exercício apaixonado».

Abro a gaveta onde fui guardando, ao longo de anos, bilhetes de espectáculos e folhas de sala. À cabeça aparece a folha de sala do espéctaculo «Dúvida», uma parábola de John Patrick Shanley, com encenação de Ana Luísa Guimarães e interpretações de Eunice Muñoz, Diogo Infante, Isabel Abreu e Lucília Raimundo. Vi o espectáculo com um grupo de amigos e amigos de amigos nos finais de Janeiro de 2008.


Um espectáculo oportuno. Naquele período, muitas dúvidas despontaram com as chuvas invernais. Algumas desfizeram-se, como bonecos de neve beijados pelo sol. Outras, fortaleceram-se em terreno de pousio.


Resgato este excerto do texto da folha de sala, da autoria de John Patrick Shanley, porque sou uma mulher convicta no poder transformador da coragem. Uma mulher cheia de dúvidas, portanto.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Sou toda ouvidos

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Outonar II







As videiras ruborizam depois de vindimada a embriaguez.
O desejo reluz na pele das intactas bagas - o pedestal.
As amoras, essas, mirram à espera de quem as colha -
cabisbaixam-se e engolem a doçura.



Outonar I










As lajes envelhecidas pelas estações. A vegetação seca sob os pés. O estalido. Os despojos do Verão. A languidez.




domingo, 26 de setembro de 2010

Desta falta

Imagem de Annette Phrsson

«Desta falta de tempo, sorte, e jeito,
Se faz noutro futuro o nosso encontro.»

António Franco Alexandre

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Dentro

Imagem de Laurie Simmons


Viver o cancro, morrer de cancro. Tenho medo da possibilidade. Dói-me, dentro da própria dor, ver também quem amo sofrer de cancro. Tenho medo. E só se espanta esse medo com o que é eterno. E eterno é o amor. Sim, o amor. Aquele amor inquebrável que, perante as adversidades, se fortalece. Porque esse amor existe. É obsceno, este amor: humilha quem vive relações de faz de conta.

A vida pode querer esboroar a fé no amor, pondo-nos à frente dos olhos relações em estilhaços. Multiplicam-se os finais de relações, nossas, dos outros ou de aqueloutros. Mas eu continuo a acreditar no amor. Não com a ingenuidade dos 19 anos, mas com a romântica lucidez dos 32.

Quero um amor como o dos meus pais. E quero que, um dia, um filho me abrace como eu abraço a minha mãe. E refile preocupadamente comigo como eu faço com o meu pai.

Saber que moramos no peito de alguém, saber que no abraço desse alguém nos sentimos em casa, sentir que, em redor do outro, podemos desvelar intimidade...haverá alguma coisa, além disto, que dê verdadeiro sentido à vida?



Viver

«Deixei de festejar os meus anos, não gosto destas coisas das datas. Não gosto de ter menos tempo do que já tive. Por isso, digo que a vida tem de ser larga, porque pode não ser comprida...»

Parece uma frase retirada do filme «Contraluz», mas o autor é mesmo António Mexia, presidente da EDP, em entrevista ao Expresso. A luz como denominador comum.

(à vida, além de largura, eu acrescentaria profundidade; e o Gonçalo M. Tavares, milagre...e este post fez-me lembrar um anterior)

A lição

Para António Feio, a aprendizagem sobre o que é isso de se ter cancro chegou ao fim. Passou com distinção.


«Não quero dar uma de herói. Sou um mariquinhas de caca como qualquer ser humano nestas condições. Tenho medo, tenho pavor. Mas não vou andar aqui a choramingar».

E não choramingou.
Morreu o homem, mas não morreu o exemplo.

sábado, 24 de julho de 2010

Ei-las

Imagem de Lane Coder


Aí estão as férias. Curtas, mas minhas.
Tudo o que quero:
o discreto rumor do estio.
vastidão.
sono sem a tirania do despertador.
leitura em silêncio.
trocar o eléctrico 28 pelo meu carro.
procurar o verde.
deitar a cabeça no colo materno.
O coração entre a doçura dos figos e as raízes dos girassóis.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

E agora, José?

sábado, 12 de junho de 2010

Mi(ni)stério da defesa

Imagem de Laurie Simmons

Ele tinha um desejo: queria que a sua pele fosse palimpsesto; e ela copista do mais redivivo poema de amor. Ela fazia-o pestanejar ternura. Mas ele não conseguia deixar de olhar para ela e ver uma arma apontada à sua própria testa, ao seu próprio coração. Ele queria despir a armadura dos gestos, abrir o peito ao fogo disparado pela sua própria mão. Mas não conseguia.Queria premir o gatilho, estilhaçar aquilo em que se tinha tornado a sua vida: um mi(ni)stério da defesa. Queria abraçá-la, sem braço de ferro. Mas os pensamentos antecipavam-lhe o sabor a pólvora que escorreria do beijo que nunca deram.

Fugia do gatilho, em vão.

Ainda não se tinha apercebido de que a bala, já há muito, lhe navegava na corrente sanguínea.


Opinem

Decidi mudar o visual desta casinha. O fundo negro deu lugar a outras cores. Acham que o novo look está comestível? Vá, digam de vossa justiça.

domingo, 6 de junho de 2010

Rasgão








Imagens do filme Anticristo, de Lars von Trier



«um rasgão de luz sobre a pele, dormes na seiva doce

das manhãs.

mas sabes que só há repouso para o sofrimento

quando se entra no primeiro dia dos dias sem ninguém.

a dor, a perna amputada, a chaga viva, o sangue a latejar - o mapa da abissínia.

o sol enterra-se nas areias.

viajo, sem me mexer desta enxerga branca.

tento encontrar espaço para a lucidez do meu silêncio.

no lugar do poema coalha o ouro das geadas, e os

animais são formas etéreas que se me colam ao rosto.

o que morre, quase não faz falta...

dantes ouvia o mar...bastava encostar a cabeça ao peito um do outro.»


Al Berto, in Horto de Incêndio


Do encantamento

Cada vez me maravilho mais com os livros para a infância.
Os grandes ensinamentos são minimais.

domingo, 23 de maio de 2010

A mudança

O tempo, passa, passa. E eu ainda não vos falei do desejo que está a ser cumprido, desde Janeiro. Tenho postado pouco, é um facto. E do pouco que tenho escrito por aqui, não vos contei que a mudança passou por ir para Lisboa. Talvez não tenha dito isso antes porque a mudança foi natural, como se o meu lugar fosse precisamente a mobilidade. Gosto de mim assim, a oscilar entre Campo de Ourique e o campo dos minhas origens.
Os amigos de sempre continuam a ser os amigos de sempre, a família - e em particular a minha mãe - felizmente (muito felizmente) tem andado bem, começam a crescer novas amizades e o coração, esse, continua a surpreender-se com o que se vai enraizando de mansinho.
Conheci pessoalmente a minha querida Viviane. E, graças à visita papal (que tanto trabalhinho me deu), estive pertinho de dois bloggers próximos cá da casa. Dois miguéis por acaso. Sim, confesso, estive ao pé de ti e de ti e não me apresentei. Desculpem o meu recato.

Sou toda ouvidos

domingo, 16 de maio de 2010

Dúvida existencial

( Imagem retirada daqui, via O Polvo)




Como é que duas ilhas se tornam num arquipélago?


domingo, 9 de maio de 2010

A caminho


Quando amo muito durante muito tempo, tenho saudades de mim. Quando amo viro varanda, toda voltada para ele. Até que chega um momento em que me procuro e vejo-me toda espalhada num território que é ele.


Então, começo a criar distância e fronteira…a caminho de mim. Primeiro, as frases começam a ser contidas. Viro egoísta, crio gavetas dentro das veias, para que as palavras sejam mais minhas, tão só minhas. Torno-me monossilábica. Depois o olhar retrai-se. Fujo da claridade dos olhos de quem me ama.


Ai, e o prazer que me dá ser honesta, quando ele me diz 'tenho saudades tuas'. E eu respondo 'eu também, eu também'. Nem imagina que é de mim que tenho saudades. Depois digo-lhe que estou a caminho de mim…e ele fica baralhado.

Às vezes, ele deita-me um olhar inquisidor e pergunta: Quem és tu, Mar-ga-ri-da? Tem essa mania irritante de separar as sílabas do meu nome, como se desunindo sílabas, descosendo palavras, pudesse dissecar o meu pensamento. É aí, quando chega essa pergunta absurda – Quem és tu? -, que me desinteresso da inteligência dele.


Quem sou? Quem sou? Como se fosse possível ser estanque, água sem torrente. Ele queria-me definida, arrumadinha. Queria-me igual, para o resto da vida. Queria apanhar-me como caçador de borboletas. E, com alfinetes, colocar-me na imobilidade. Estática como um dicionário.


Fico triste a olhar as fotografias. Quero estar viva. Abro a janela. E sou.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Mijinha abençoada


Leio isto e eis que encontro das coisinhas mais idiotas que já vi nos últimos tempos: higgfly. Uma mulher a mijar à gajo é mesmo uma ideia peregrina de alguma cabecinha masculina. Já estou a ver as senhoras a caminho de Fátima a arriar a calça (ou a levantar a bela da saia) e a sacar do funil para fazerem pontaria a algum dos pinheiros à beira da estrada. É que estou mesmo a ver as senhoras a sacarem das instruções de montagem do higgfly antes de fazerem um chichizinho. Estou, estou. E a imagem é deprimente.


segunda-feira, 19 de abril de 2010

i não é que era fruta a mais?

Nada, mas nadinha disto me surpreende. Infelizmente.

Só quem não conhecer como funcionam, há anos, os títulos de imprensa regional, detidos pela Sojormedia, é que pode esboçar algum espanto.

Para este grupo económico que cresceu entre andaimes e cimento, os jornais regionais afiguraram-se como cavalos de Tróia que lhes permitiram ir estreitando contactos com o tecido empresarial e com o poder político de várias regiões, e isto naturalmente terá trazido proveito a outras áreas de negócio do grupo. Os jornalistas, para a Sojormedia, são uma chatice, uma despesa - é que nem disfarçam que é uma maçada os jornais não viverem apenas de anúncios de publicidade.

Para culminar, o Grupo Lena decidiu abrir os cordões à bolsa e investir 10,4 milhões de euros num jornal nacional. Eis, a cereja em cima do bolo, o apogeu do prestígio, a chegada à capital, o aproximar do centro de decisões do país. O peito ufano.

Mas o pedido de sacrifícios à equipa do i - que inclui cortes na despesa na fruta - viria mais cedo ou mais tarde. Nada a que os jornais regionais do grupo não estejam habituados, silenciosamente. Longe da atenção dos outros media e do Sindicato de Jornalistas.

sábado, 17 de abril de 2010

Sou toda ouvidos

segunda-feira, 12 de abril de 2010

«Estavam falando do leite, eu gosto de falar dos que mamam»

Portugal podia importar esta deputada. Ai podia, podia.

A t-shirt não engana

Não é candidato a líder do PSD, mas Rui Baptista "candidatou-se" a assessor do líder. E ganhou.

domingo, 11 de abril de 2010

segunda-feira, 29 de março de 2010

homem parideiro

«(...)Ando a crer que, nem que seja por ironia para com o meu nome de escritor, também os homens têm para aqui um relógio biológico que tique-taca contra qualquer distracção e que, no momento certo, dispara um alarme intermitente que nos alerta para o desperdício de não lutarmos por aquilo que queremos, sobretudo quando o que queremos se afigura uma decorrência esplendorosa da nossa natureza.

Estou com 38 anos e começo a perceber que a descendência significa largamente mais do que o quanto é evidente. Hoje sei que me faltam os filhos para um tipo de amor de que sou capaz e não tenho a quem deixar. Nesse sentido, posso pensar que desperdiço esse amor, deito-o fora, desimportante para outras coisas como seria fundamental para cuidar de um filho. Ando toda a vida a colocar, nos lugares daquilo que me falta, poemas e histórias com mais ou menos carochinhas. Ando a pôr poemas nos lugares vazios da casa, nas cadeiras onde outrora se sentavam pessoas, nos vasos secando pela minha progressiva ausência, maior, maior ausência, e ponho poemas ao meu lado, como gente falando e mexendo à espera que algo aconteça como milagre da palavra. Poemas crianças que brincam comigo e gostam de mim, aprendem a nutrir um amor incondicional por mim que me trará uma alegria a vida inteira e que me responsabiliza (...)»

valter hugo mãe (Jornal de Letras, 24 de Março a 6 de Abril de 2010)

domingo, 14 de março de 2010

Filosofia de rua

terça-feira, 9 de março de 2010

Naufrágio

Imagem de Jean-François Lepage

Há-de haver azul suficiente
para remarmos um até ao outro.

No poço do nosso corpo, o naufrágio da clepsidra.

domingo, 7 de março de 2010

Sou toda ouvidos

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Fénix



Desalmei-me.
Tapei o buraco, com erva e ramagem.
Mas, veio uma fénix que levou a minha voz
até à boca do vento.

[Do meu desassossego fez ninho]

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Àguas profundas

Imagem de Lizy Darko

Ela observa-o a dar comida aos peixes do aquário. Os peixes observam os gestos do cuidador. Ele está de costas para ela, e revela-se em profundidade.

Ela - Os peixinhos são uns animais de estimação peculiares. Só olhas para eles, não há grande interacção. Deves gostar mais dos passarinhos, não?

Ele- Nem por isso.

Ela - É?

Ele - Com os peixes brincas a Deus e crias universos. E tentas dar bem-estar aos universos que crias.


[É no meio das conversas aparentemente banais que surgem as maiores revelações sobre o outro]

sábado, 23 de janeiro de 2010

V

Gosto de conhecer pessoas e não apenas de cruzar existências. Gosto de pessoas que deixam escapar uma lágrima enquanto revelam o que de sísmico há dentro delas. Gosto de pessoas que partilham uma fatia de bolo de chocolate com alguém cujo rosto acabaram de conhecer. Gosto de conhecer a carne e o osso de pessoas cujas palavras visito diariamente. Gosto de pessoas com as quais sinto familiaridade, logo no primeiro instante em que as nossas vozes se tocam. Gosto de quem não se esconde por detrás da barreira de segurança. Gosto quando a vida traz até mim pessoas de alma grande e olhar doce.

Querida V., até breve.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Sabotagem


Amanhece um imaculado caminho.
Estanco os passos, a neve esvai-se em pétalas de sangue.
O perfume de quem sabota a própria vida.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Sou toda ouvidos



Enquanto houver ouvidos para a escutar, Lhasa continuará viva.