segunda-feira, 29 de março de 2010

homem parideiro

«(...)Ando a crer que, nem que seja por ironia para com o meu nome de escritor, também os homens têm para aqui um relógio biológico que tique-taca contra qualquer distracção e que, no momento certo, dispara um alarme intermitente que nos alerta para o desperdício de não lutarmos por aquilo que queremos, sobretudo quando o que queremos se afigura uma decorrência esplendorosa da nossa natureza.

Estou com 38 anos e começo a perceber que a descendência significa largamente mais do que o quanto é evidente. Hoje sei que me faltam os filhos para um tipo de amor de que sou capaz e não tenho a quem deixar. Nesse sentido, posso pensar que desperdiço esse amor, deito-o fora, desimportante para outras coisas como seria fundamental para cuidar de um filho. Ando toda a vida a colocar, nos lugares daquilo que me falta, poemas e histórias com mais ou menos carochinhas. Ando a pôr poemas nos lugares vazios da casa, nas cadeiras onde outrora se sentavam pessoas, nos vasos secando pela minha progressiva ausência, maior, maior ausência, e ponho poemas ao meu lado, como gente falando e mexendo à espera que algo aconteça como milagre da palavra. Poemas crianças que brincam comigo e gostam de mim, aprendem a nutrir um amor incondicional por mim que me trará uma alegria a vida inteira e que me responsabiliza (...)»

valter hugo mãe (Jornal de Letras, 24 de Março a 6 de Abril de 2010)

domingo, 14 de março de 2010

Filosofia de rua

terça-feira, 9 de março de 2010

Naufrágio

Imagem de Jean-François Lepage

Há-de haver azul suficiente
para remarmos um até ao outro.

No poço do nosso corpo, o naufrágio da clepsidra.

domingo, 7 de março de 2010

Sou toda ouvidos