domingo, 29 de novembro de 2009

À flor da pele


À procura de quem conheça David Saldanha, alegado homicida de Joana Fulgêncio, descubro, por mero acaso, o irmão da vítima de um outro homicídio passional. Um homenzarrão, de olhar doce, arregaça a manga e mostra-me o rosto da irmã, tatuado no braço. Comove-me este modo viril, masculino, de demonstrar o amor fraternal. Não há mau gosto à flor da pele, há uma dor hipodérmica.

domingo, 22 de novembro de 2009

Sou toda ouvidos

Chamar os boys pelos nomes



«(...)perceberam que havia uma questão decisiva: o controlo da comunicação social.
Obstinaram-se, assim, nessa cruzada.
A RTP não constituía preocupação, pois sendo dependente do Governo nunca se portaria muito mal.
Os privados acabaram por ser as primeiras vítimas.
O Diário Económico, que estava fora do controlo e era consumido pelas elites, mudou de mãos e foi domesticado.
O SOL foi objecto de chantagem e de uma tentativa de estrangulamento através do BCP (liderado em boa parte por Armando Vara).
A TVI, depois de uma tentativa falhada de compra por parte da PT, foi objecto de uma 'OPA', que determinou a saída de José Eduardo Moniz e o afastamento dos écrãs de Manuela Moura Guedes.
O director do Público foi atacado em público por Sócrates - e, apesar de tão propalada independência do patrão Belmiro de Azevedo, acabou por ser substituído.
A Controlinvest, de Joaquim Oliveira (que detém o JN, o DN, o 24 Horas, a TSF) está financeiramente dependente do BCP, que, por sua vez, depende do Governo».


José António Saraiva in artigo de opinião intitulado Os boys de Guterres. No Correio da Manhã há mais.


quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Resiliência

Leni Riefenstahl (1902-2003)

«(...)chocam-me muitas situações de isolamento, nomeadamente na viuvez e, mais provavelmente, nos homens do que nas mulheres - porque as mulheres estiveram sempre ocupadas, tiveram sempre o papel de mães, de avós, da domesticidade. Não é à toa que se fala da viúva alegre e não se fala do viúvo alegre. As mulheres, enfim, sobrevivem melhor.

Interessa-me esse problema do isolamento, da solidão, dos grupos de reformados a quem o sistema dá uma pensão mínima, mas estão ali no largo da igreja a descontar no tempo. Um dos projectos que pretendemos desenvolver é sobre o envelhecimento activo, o uso do tempo. Digo: "Há muitos viúvos isolados." Haverá mesmo? Vamos saber, porque uma pessoa pode ser viúva e não se sentir só, pode ter amigos, participar em actividades, viajar em grupo».


[Manuel Villaverde Cabral, coordenador do Instituto do Envelhecimento]


terça-feira, 10 de novembro de 2009

Sou toda ouvidos



There's a dream that I see, I pray it can be
Look cross the land, shake this land
A wish or a command
I dream that I see, don't kill it, it's free
You're just a man, you get what you can

We all do what we can
So we can do just one more thing
We can all be free
Maybe not in words
Maybe not with a look
But with your mind

Listen to me, don't walk that street
There's always an end to it
Come and be free, you know who I am
We're just living people

We won't have a thing
So we'd got nothing to lose
We can all be free
Maybe not with words
Maybe not with a look
But with your mind

You've got to choose a wish or command
At the turn of the tide, is withering thee
Remember one thing, the dream you can see
Pray to be, shake this land

We all do what we can
So we can do just one more thing
We won't have a thing
So we've got nothing to lose
We can all be free
Maybe not with words
Maybe not with a look
But with your mind

But with your mind

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Lâmpada

Imagem de Cassie Kammerzell


O génio da lâmpada mágica tardou, mas não falhou. Dos meus três desejos, um poderá cumprir-se em breve. Sendo importante, não era
o mais importante, neste momento da minha vida (mas longe de mim, querer parecer pobre e mal agradecida). E por coisas que eu cá sei - incluindo ter passado a tarde de ontem com um bispo - isto soa-me a uma espécie de sinal divino.

Ainda estou a digerir o que ontem, à hora do lanche, me apareceu de bandeja. Bem, não é assim tão de bandeja, porque tudo na minha vida se realiza com muito trabalhinho. Mas posso dizer que é comestível, ó se é comestível. Desejem-me coisinhas boas, vá.



quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Entardecer

Imagem de llona Olkonen



Gosto quando entardeces em mim

deixas tombar a luz

viras lua.


Percorro os teus sinais -

constelações que acendem gestos, meus.


Gosto quando o teu ombro se insinua como precipício.




terça-feira, 3 de novembro de 2009

Coração fascista

Imagem de Chris Craymer


«Nas coisas do coração, por muito democrática que seja a nossa razão, somos todos totalmente fascistas. Tão insuportavelmente fascistas, de facto, que deveríamos ser todos presos - literalmente, já que o que convém na política não apetece nada no amor. Na política, convém que as pessoas sejam livres. No amor não. (...)

Não se pode confiar em ninguém - mesmo nas pessoas de absoluta confiança. Confiar, não ter ciúmes, significa achar o outro incapaz, indesejável ou incapaz de desejar, indiferente ou incapaz de ser diferente. Faça-se a quem se queira a fineza de achar que mais alguém o há-de querer também. Desconfiar de quem se ama significa dizer, de uma maneira perversa mas verdadeira: "Se calhar estarias melhor com outra pessoa, mas eu, com outra pessoa, estaria sempre pior."»


Excerto de crónica de Miguel Esteves Cardoso, com publicação na revista do i, na edição Nós, Ciumentos