quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Sou toda ouvidos

Dúvida

Imagem de Gregory Credwson

«O que é a Dúvida? Cada um de nós é como um planeta. Há a crosta, que parece eterna.

Estamos confiantes acerca de quem somos. Se nos perguntarem, sabemos descrever de imediato o nosso estado actual. Eu sei as minhas respostas para muitas perguntas, tal como vocês. Como era seu pai? Acredita em Deus? Quem é o seu melhor amigo? O que quer? As vossas respostas são a vossa topografia actual que parece ser permanente, mas que é enganadora. Porque debaixo dessa face de respostas fáceis, existe um outro Eu. E esse Ser sem palavras move-se como se move o instante que passa; pressiona para vir à superfície sem qualquer explicação, fluído e sem palavras, até que a consciência que resiste, não tem outra alternativa senão ceder.

É a Dúvida (vivida muitas vezes no início como fraqueza) que faz as coisas mudar. Quando um homem se sente inseguro, quando vacila, quando um saber arduamente conquistado se evapora diante dos seus olhos, é quando está no limiar do crescimento. A reconciliação, subtil ou violenta, da pessoa exterior com o seu íntimo parece muitas vezes, no início, um erro, como se avançássemos na direcção errada e nos perdêssemos.Mas isso não é senão a emoção que anseia pelo que lhe é familiar. A vida acontece quando o poder tectónico da nossa alma silenciosa irrompe através dos hábitos estagnados da nossa mente. A Dúvida não é mais do que uma oportunidade de reentrar no Presente. (...)

A Dúvida requer mais coragem do que a convicção, e mais energia; porque a convicção é um lugar de repouso e a dúvida é infinita - é um exercício apaixonado».

Abro a gaveta onde fui guardando, ao longo de anos, bilhetes de espectáculos e folhas de sala. À cabeça aparece a folha de sala do espéctaculo «Dúvida», uma parábola de John Patrick Shanley, com encenação de Ana Luísa Guimarães e interpretações de Eunice Muñoz, Diogo Infante, Isabel Abreu e Lucília Raimundo. Vi o espectáculo com um grupo de amigos e amigos de amigos nos finais de Janeiro de 2008.


Um espectáculo oportuno. Naquele período, muitas dúvidas despontaram com as chuvas invernais. Algumas desfizeram-se, como bonecos de neve beijados pelo sol. Outras, fortaleceram-se em terreno de pousio.


Resgato este excerto do texto da folha de sala, da autoria de John Patrick Shanley, porque sou uma mulher convicta no poder transformador da coragem. Uma mulher cheia de dúvidas, portanto.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Sou toda ouvidos

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Outonar II







As videiras ruborizam depois de vindimada a embriaguez.
O desejo reluz na pele das intactas bagas - o pedestal.
As amoras, essas, mirram à espera de quem as colha -
cabisbaixam-se e engolem a doçura.



Outonar I










As lajes envelhecidas pelas estações. A vegetação seca sob os pés. O estalido. Os despojos do Verão. A languidez.