

(via Bruaá Editora ). Afinal há vida, e não múmias, para além dos finais felizes.
«O título do livro pensara nele enquanto olhava fixamente para a montra de uma pastelaria cheia de porquinhos de maçapão. Há já algum tempo que eu andava interessada na questão do canibalismo simbólico.Na altura, eram os bolos de casamento, encimados pelos seus noivos de açúcar, que muito em particular me fascinavam», Margaret Atwood
Exercício de amar: ensinar a levantarmo-nos do chão, mesmo quando estamos de pés e braços atados.
A infância ainda é tempo de simulação. A vida adulta ensina que não há condescendência para uma infância flor de estufa.
Proteger: entregar quem se ama a uma dor domesticável, no tempo das amoras subtraídas às silvas.
A queima controlada da inocência.
E se afinal D. Afonso Henriques tivesse nascido em berço viseense? Os manuais escolares ensinaram-nos a olhar para Guimarães e imaginar ser aquele o local onde D. Teresa terá dado à luz o primeiro rei português. No entanto, o historiador medievalista A. de Almeida Fernandes (nascido em 1917, em Britiande, Lamego, e falecido em Tarouca, em 2002) juntou provas documentais que atestam a possibilidade de D. Afonso Henriques ter nascido em Viseu, em meados de Agosto de 1109.
Este trabalho resultou de uma encomenda feita pela Unidade Vimarenense – Associação para o Desenvolvimento de Guimarães e sua Região. A associação pediu a A. de Almeida Fernandes que averiguasse onde nasceu D. Afonso Henriques, visto ter sido levantada a hipótese de Coimbra ser o berço do rei. A tese foi pela primeira vez publicada na Revista Beira Alta (1990-91) e em edição do Governo Civil de Viseu em 1993. A Fundação Mariana Seixas decidiu, em 2007, publicar, de novo, a tese de A. de Almeida Fernandes, uma vez que esta se encontrava esgotada.
A hipótese que defende que o nascimento de D. Afonso Henriques terá ocorrido em Guimarães carece de base documental. Então, por que se atribui à cidade minhota o berço do nascimento do primeiro rei português? Na obra «Viseu, Agosto de 1109, Nasce D. Afonso Henriques», A. de Almeida Fernandes alude que, na origem, poderá estar o facto de Guimarães ser palco dos principais acontecimentos de 1126-1128, iniciados no ano seguinte à iniciativa de D. Afonso Henriques se ter armado a si próprio cavaleiro, quando tinha 16 anos.
Segundo A. de Almeida Fernandes, Viseu guardava, desde a primeira metade do séc. X, a tradição de residência real e de verdadeira capital do reino. Do séc. XI para o XII, perante o alargamento dos domínios até ao Tejo, D. Henrique e D. Teresa tiveram necessidade de transferir para o sul do Douro a sua sede, a qual teriam em Guimarães. «Seria, pois, Viseu a residência mais naturalmente indicada – até porque na mais exposta Coimbra a densa moçarabia não lhes era convenientemente afecta. Se bem que existiam oposições moçárabes em todo o território ao sul do Douro, elas eram em Viseu praticamente nulas. Nota-se que, enquanto os ataques a Coimbra então, pelos Mouros, são frequentes, não se conta um a Viseu: muito maior segurança (…)», é descrito pelo historiador.
Almeida Fernandes defende ainda ser notória «uma grande predilecção de D. Teresa por Viseu, na correspondência ou em razão da dos Visienses por ela: a região é, largamente, aquela, em todo o Portugal de então, que mais actos e documentos de D. Teresa conta».
Tendo D. Afonso Henriques nascido em Julho ou Agosto de 1109 e estando D. Teresa nessa altura em Viseu, não restam, para o historiador, dúvidas de que Guimarães não acolheu o nascimento do primeiro rei português.
Em, «Viseu, Agosto de 1109», o historiador sustenta que D. Teresa não assistiu à morte nem às exéquias do pai, nem à cerimónia traditio super altare, em Coimbra, no regresso do conde D. Henrique da expedição a Sintra, tendo-se mantido em Viseu por uma razão: o nascimento do filho. Em sua substituição, D. Teresa mandou uma deputação representativa, «dando nela o lugar principal» a viseenses populares.
«Os indícios da residência de D. Teresa em Viseu depois do nascimento de D. Afonso Henriques são, pode dizer-se, directos (com manifestações em 1117, 1119 ou 1120, e 1127, pelo menos)», refere A. de Almeida Fernandes.
Têm sido publicados vários estudos relativos à figura de D. Afonso Henriques, propondo distintas teses sobre o seu local de nascimento. O historiador José Mattoso corrobora a tese defendida por A. de Almeida Fernandes. Na biografia «D. Afonso Henriques», Mattoso menciona que «a demonstração feita por Almeida Fernandes alcançou verosimilhança suficiente para se admitir como possível, ou mesmo a mais provável, até que outras provas sejam apresentadas em contrário». «É de facto admissível, com base nos documentos por ele invocados, que D. Afonso Henriques tivesse nascido em Viseu por meados do mês de Agosto de 1109», indica José Mattoso.
Descobrir, de súbito, o que queremos mesmo fazer na vida, fazer da vida, fazer com vida, traz um entusiasmo inesperado. Espero que este entusiasmo não seja passageiro, como as nuvens, mas que crie raízes para consolidar o sonho que me caiu no regaço.
Às vezes, andamos às apalpadelas, temos uma ideia etérea na cabeça, e de repente: eis, é mesmo isto. E só nos espantamos por não termos visto, há muito e com toda a clareza, o que é óbvio. Não há nariz obstruído que me tire o sorriso do peito. Por isso, nada como uma música com power para alimentar este estado de espírito.