«Era um sonho atroz logo desde o princípio. Marchar nua, a passo militar, no meio de outras mulheres, era para Tereza a imagem-tipo do horror. Quando morava com a mãe, estava proibida de se fechar à chave na casa de banho. Para a mãe, era uma maneira de lhe dizer: o teu corpo é igual a todos os outros corpos; não tens direito ao pudor; não tens nada que esconder uma coisa que existe de forma idêntica em milhões de exemplares. No universo da mãe, os corpos eram todos iguais e marchavam a passo uns atrás dos outros num interminável desfile. Desde a infância que a nudez era para Tereza a marca da uniformidade obrigatória do campo de concentração; a marca da humilhação.
Ainda havia outra coisa horrível logo no começo do sonho: as mulheres tinham todas que cantar! Com os corpos todos iguais uns aos outros, todos igualmente desvalorizados como simples mecanismos sonoros e sem alma, as mulheres ainda se regozijavam com isso! Era a rejubilante solidariedade das desalmadas. Sentiam-se felizes por estarem libertas do fardo da alma, dessa ilusão da diferença, desse orgulho ridículo, e por serem todas iguais».
Milan Kundera, in A Insustentável Leveza do Ser
1 comentário:
Um dos meus livros favoritos.
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