domingo, 14 de setembro de 2008

Olhos de boneca







Não me lembro de ser muito ligada a bonecas. Nunca tive muitas e não lhes senti a falta. Nunca tive Barbies. Talvez, quando pequena, já sentisse pouca afeição pelo artificial, pelo sorriso de miss colado num corpo demasiado longínquo do humano. Da infância guardo apenas duas bonecas. Nenhuma das duas é de plástico. Uma foi oferecida pela avó Nair, a outra por uma amiga.



Hoje, ao ler um trabalho sobre a boneca Blythe, publicado na Pública, dei por mim encantada com aquelas figurinhas de corpo esguio e olhos enormes. São de plástico, sim. Mas há algo nestas bonecas que fascina. Um olhar misterioso e triste, de quem guarda segredos terríveis e dores melancólicas, colado a um rosto de menina com expressão demasiado adulta. Um cruzamento de segurança com vulnerabilidade estampado numa boneca que surgiu há 30 anos, condenada ao fracasso. O revirar de olhos, accionado por um fio colocado na nuca da boneca, fez com que as crianças vissem na Blythe uma inspiração para os pesadelos e não uma companheira de brincadeiras inocentes.



Agora, a Blythe virou brinquedo de adultos. Até eu fiquei com vontade de ter uma. São os olhos, aqueles olhos a pedir abraço e silêncio.



1 comentário:

lebredoarrozal disse...

já somos duas. eu quero muito ter uma blythe:)