domingo, 9 de maio de 2010

A caminho


Quando amo muito durante muito tempo, tenho saudades de mim. Quando amo viro varanda, toda voltada para ele. Até que chega um momento em que me procuro e vejo-me toda espalhada num território que é ele.


Então, começo a criar distância e fronteira…a caminho de mim. Primeiro, as frases começam a ser contidas. Viro egoísta, crio gavetas dentro das veias, para que as palavras sejam mais minhas, tão só minhas. Torno-me monossilábica. Depois o olhar retrai-se. Fujo da claridade dos olhos de quem me ama.


Ai, e o prazer que me dá ser honesta, quando ele me diz 'tenho saudades tuas'. E eu respondo 'eu também, eu também'. Nem imagina que é de mim que tenho saudades. Depois digo-lhe que estou a caminho de mim…e ele fica baralhado.

Às vezes, ele deita-me um olhar inquisidor e pergunta: Quem és tu, Mar-ga-ri-da? Tem essa mania irritante de separar as sílabas do meu nome, como se desunindo sílabas, descosendo palavras, pudesse dissecar o meu pensamento. É aí, quando chega essa pergunta absurda – Quem és tu? -, que me desinteresso da inteligência dele.


Quem sou? Quem sou? Como se fosse possível ser estanque, água sem torrente. Ele queria-me definida, arrumadinha. Queria-me igual, para o resto da vida. Queria apanhar-me como caçador de borboletas. E, com alfinetes, colocar-me na imobilidade. Estática como um dicionário.


Fico triste a olhar as fotografias. Quero estar viva. Abro a janela. E sou.

3 comentários:

Poetic Girl disse...

É por isso que temos ser sempre nós, entregarmo-nos sim, mas deixar espaço para respirarmos... adorei o teu texto... bjs

PROJEÇÃO DE MIM disse...

adorei, lindo...
mas o contrario de mim, faço-me conhecer a td momento...

Liliana Garcia disse...

Poetic girl e projeção de mim, obrigada pelos comentários :)