domingo, 20 de setembro de 2009

Cebrián dixit

Imagem de Denis Olivier

«Desde que me iniciei nesta profissão acreditei firmemente que a única forma de garantir a independência de um diário é assegurando a sua rentabilidade. Não digo que esta seja uma condição suficiente para isso, mas sim que é necessária. Um diário financiado por subvenções - sejam públicas ou privadas, de signo empresarial ou político - dificilmente pode assumir-se como independente. Naturalmente que uma concepção assim implica a assunção de que o jornal não é só um negócio, mas que o deve também ser se quer ser um bom jornal. De facto, estes dois conceitos - bom jornal e bom negócio - vão com frequência unidos. A mim isso não me repugna em absoluto e devo esclarecer-te que também não me parece nenhuma claudicação especial do nosso ofício. Já estou a ouvir os teus protestos a falarem-me da liberdade de expressão e do direito à informação como privilégios constitucionais de todos os cidadãos, mas para nada empalidecerem essas asserções pelo facto de implicarem também um interesse mercantil no assunto. O ensino ou a saúde, para dar outros exemplos, estão igualmente garantidos pela Constituição e são a base de um sem-fim de negócios nos quais o lucro é o motor evidente e principal. Desqualificar o jornalismo pelos seus aspectos comerciais - «só querem vender mais e por isso publicam o que publicam» - é uma atitude bastante estúpida. É evidente que há publicistas irresponsáveis e profissionais mafiosos que antepõem o benefício económico a qualquer outra consideração, mas esta não tem porque ser a norma. Temos de nos esforçar por defender uma visão ética do capitalismo (...)».

Juan Luis Cebrián, in Cartas a um jovem jornalista
(Editorial Bizâncio, Lisboa, 1998)



1 comentário:

Alexandre disse...

ando há que tempos para escrever uma coisa, nestes moldes, ao director do público, mas ou não há paciência, ou não há tempo...