Vestir uns calções representou, hoje, a minha inauguração oficial do Verão. Lembrei-me de um excerto de «Orlando», de Virgínia Woolf:
«Por muito fúteis e insignificantes que pareçam, as roupas têm (...)outras e mais importantes funções que simplesmente a de nos aquecer. Modificam a nossa visão do mundo e a visão que o mundo tem de nós.(...)
Não faltam, portanto, argumentos em favor da ideia de que são as roupas que nos usam e não nós a elas; podemos talhá-las segundo o molde do nosso braço ou do nosso peito, mas são elas que moldam a seu bel-prazer os nossos corações, os nossos cérebros, as nossas línguas.(...)
Se compararmos o retrato de Orlando homem com o de Orlando mulher, veremos que, embora os dois sejam indubitavelmente uma mesma e única pessoa, são de assinalar certas mudanças. O homem tem a mão livre para empunhar a espada, a mulher vê-se obrigada a usar a sua para impedir os cetins de lhe descaírem dos ombros. O homem olha de frente para o mundo, como se este fosse feito para seu usufruto e talhado a seu gosto. A mulher deita-lhe um olhar enviesado, cheio de subtileza, ou mesmo desconfiança. Se usassem os dois as mesmas roupas, é possível que a sua visão do mundo fosse a mesma».
2 comentários:
Concordo plenamente...e assino por baixo.
Ficam-te bem :)
acabei de ler o "orlando" há poucos dias. agora, quero ver o filme da sally potter - acho que é belíssimo.
amiga virginia no seu melhor.
e gosto muito do auto-retrato :)
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