quinta-feira, 7 de maio de 2009

Imagem de Valerie Kabis


Hoje podes deitar-te na minha cama
e contar-me mentiras - dizer, não sei,
que o amor tem a forma da minha mão
ou que os meus beijos são perguntas que
não queres que ninguém te faça senão

eu; que as flores bordadas na dobra do
meu lençol são de jardins perfeitos que
antes só existiam nos teus sonhos; e que
na curva dos meus braços as horas são
mais pequenas do que uma voz que no

escuro se apagasse. Hoje podes rasgar
cidades no mapa do meu corpo e
inventar que descobriste um continente
novo - uma pátria solar onde gostavas
de morrer e ter nascido. Eu não me

importo com nada do que me digas esta
noite: amo-te, e amar-te é reconhecer o
pólen excessivo das corolas, o seu vermelho
impossível
. Mas amanhã, antes de partires,

não digas nada, não me beijes nas costas
do meu sono. Leva-me contigo para sempre
ou deixa-me dormir - eu não quero ser
apenas um nome deitado entre outros nomes.


[Maria do Rosário Pedreira, in Nenhum Nome Depois]




P.S. Este livro já cá mora há uns anos. Mas não o folheava há bastante tempo. Fiquei arrepiada ao ler a frase a negrito. Pólen, vermelho. Uns posts atrás e percebe-se a razão do meu espanto.

5 comentários:

diesnox disse...

Vou propor este blog para candidato vencedor a uma lufada de ar respirável e sereno na blogosfera tépida e farta. (empresta-me esse livro!).bj

Liliana Garcia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Liliana Garcia disse...

Diesnox, claro que empresto :)

Quando for a Lisboa passar o tal fim-de-semana, levo-to.

Beijinho

Joaquim Alexandre Rodrigues disse...

O pólen fica nos livros fechados, a morar anos, a memória guarda "arrepios" e esquece circunstâncias.

Olá, Raquel!

Anónimo disse...

Eu adoro esta mulher!