sexta-feira, 27 de março de 2009

La vie ne c'est pas une feuille blanche















«Ferdinand: - Porque estás triste?

Marianne: - Porque me falas com palavras e eu olho-te com sentimentos.

Ferdinand: - É impossível ter uma conversa contigo. Nunca tens ideias, só sentimentos.

Marianne: - Não é verdade. Os sentimentos contêm ideias.

Ferdinand: - Vamos tentar ter uma conversa séria. Diz-me do que gostas, o que queres, e eu farei o mesmo. Começa tu.

Marianne: - Flores, animais, o azul do céu, o som da música. Não sei. Tudo. E tu?

Ferdinand: - Ambição, esperança, o movimento das coisas, acidentes.

Marianne: -Que mais?

Ferdinand: - Não sei. Tudo.

Marianne: - Vês? Eu tinha razão há cinco anos. Não nos entendemos. »



Ele vive a literatura, vive na literatura, vive para a literatura. Ela quer viver a vida. Rastilho aceso, a união. Ele, azul, calmorte que arde. Ela, vermelho, lava em escorrência. Tão idênticos, tão distantes. Ela quer parar de fingir que está num livro de Júlio Verne e regressar, com ele, ao romance policial, com carros, armas e clubes nocturnos. O mar não lhe chega, a ela. A vida não é preto e branco, nem apenas espuma. É azul e vermelho, que escurecem. «Pedro, o Louco», de Jean-Luc Godard, é um filme assombroso e assombrado pela fenda [fecunda e mortífera] entre M e F, masculino e feminino, Marianne [Anna Karina] e Ferdinand [Jean-Paul Belmondo].

Matéria e antimatéria. O vermelho sobre o rosto azul. E a linha do destino que era mesmo curta, como o pavio. Explosão. Bumm!



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