Eis a recta final da conversa entre o senhor felpudo-que-não-come-gatos e a mulher nham nham [é este o petit nom que o senhor com nome de motociclo de duas rodas decidiu dar à mulher comestível]:
-Gosto de te ver assim…tombée en amour – diz ela.
- É um fervor cardíaco…eu é que não sei se gosto – retorque ele.
Somos tão idênticos nas inseguranças, homens e mulheres. Tão frágeis e cobertos de dúvidas, no amor recém-nascido. Sísifos a carregar certezas montanha acima. Certezas a rolar montanha abaixo, os ombros a esmorecer. Novos sinais [endireita os ombros, pá!] e toca a empurrar a esperança montanha acima.
Pensamos ser óbvios nos velados gestos que usamos para a denúncia do amor. Porém, aos olhos do outro, podemos não passar de figura obtusa. Queremos dizer amor [sentimos um tornado a revirar veias e ideias] e disfarçamos a nudez sentimental com eufemismos [digo ‘é bom ver-te de novo’ quando o que quero dizer é ‘senti tanto a tua falta, seu estúpido! não percebes que sem ti a minha vida não tem graça nenhuma?’]. Também utilizamos personificações [a minha caixa de correio tem saudades tuas], quando o que apetece é usar uma anáfora [amo-te, amo-te, amo-te]. Na nossa cabeça a dança de sinestesias intensas que não ousamos partilhar [quando o teu olhar me abraça, o teu sorriso sabe-me a mirtilos].
-Gosto de te ver assim…tombée en amour – diz ela.
- É um fervor cardíaco…eu é que não sei se gosto – retorque ele.
Somos tão idênticos nas inseguranças, homens e mulheres. Tão frágeis e cobertos de dúvidas, no amor recém-nascido. Sísifos a carregar certezas montanha acima. Certezas a rolar montanha abaixo, os ombros a esmorecer. Novos sinais [endireita os ombros, pá!] e toca a empurrar a esperança montanha acima.
Pensamos ser óbvios nos velados gestos que usamos para a denúncia do amor. Porém, aos olhos do outro, podemos não passar de figura obtusa. Queremos dizer amor [sentimos um tornado a revirar veias e ideias] e disfarçamos a nudez sentimental com eufemismos [digo ‘é bom ver-te de novo’ quando o que quero dizer é ‘senti tanto a tua falta, seu estúpido! não percebes que sem ti a minha vida não tem graça nenhuma?’]. Também utilizamos personificações [a minha caixa de correio tem saudades tuas], quando o que apetece é usar uma anáfora [amo-te, amo-te, amo-te]. Na nossa cabeça a dança de sinestesias intensas que não ousamos partilhar [quando o teu olhar me abraça, o teu sorriso sabe-me a mirtilos].
E neste jogo andamos, perdido o talento para a transparência do mistério.
[ó senhor felpudo-que-não-come-gatos, vamos ver se não metemos água {e água é o elemento-chave}, para não afogar a liberdade. Cada um no seu aquário, claro está]
8 comentários:
O amor é uma casa estranha...mas é muito bom viver nela..jinhos
o pior é quando dizemos "amo-te" com sentimento muito além do que quer que seja que essa "coisa" for... e recebemos uma montanha do outro lado...
Uma montanha de pedra.. fria!...
Continua a Amar... e mesmo que recebas a montanha como presente... pois escala-a... e berra de lá de cima... pode ser que os ecos rebentem a montanha... e a transformem numa praia...
Tudo de belo
JV
Raquel - Adorei o post. Está perfeito! Parabéns.
O fim da insegurança e das dúvidas é o prémio dos anos corridos.
Excelente texto. E que nunca acabe. O amor.
Deixaste-me arrepiado, miguita!
Por maior que possa ser a montanha de que fala o JV, sei que, mais cedo ou mais tarde, vais encontrar o caminho certo para ultrapassá-la.
O amor é uma casa estranha, é certo. Mas é também um lugar que te pertence.
Há muito!
Beijo grande
O amor é uma casa estranha, se é. Mas, para que não surjam equívocos e correndo o risco de desapontar alguém lol, eu e o senhor felpudo-que-não-come-gatos, não vivemos na mesma casa. Moramos nesse condomínio privado da amizade :)
Eu e ele continuamos a subir montanhas, cada um a sua. Partilhando conversas sobre as subidas, quedas e afins. Acho que, nem um, nem outro, iremos desistir de chegar ao cume,ao lume.
Beijo grande à Sininho, ao JV, à Violet e ao Paulo. E um abraço especial ao senhor com nome de motociclo de duas rodas [miguito és grande, vais ser um paizão :)]
Eu neste momento estou no sopé da montanha, a rodeá-la, à procura do lado menos íngreme que me permita dar o primeiro passo rumo ao topo. Acredito que lá de cima seja tudo tão perfeito quanto parece cá de baixo. Por isso é que não me apetece desistir. Se vier uma avalanche, sacudo a neve, levanto-me e começo tudo de novo. Desta vez vale a pena.
(claro que este é o meu lado optimista a tentar pisar o meu pessimismo natural...) :)
ó senho felpudo-que-não-come-gatos, é isso mesmo: pisa, calca, esmaga o pessimismo natural. Eu procuro fazer o mesmo. E vais ver: vamos encontrar-nos lá em cima, com um pedaço de neve na mão, para nos lembrarmos do caminho percorrido :)
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