terça-feira, 9 de setembro de 2008

Vulneráveis





«A família torna-nos vulneráveis». Esta frase, que serviu de remate a um episódio da série Mentes Criminosas, aninhou-se no meu colo. Pediu-me reflexão. Não preciso de olhar pelo buraco da fechadura alheia para anuir com a frase. Nenhuma família está isenta de segredos, hipocrisia ou frontalidade gélida, ódios disfarçados ou assumidos, opressão ou negligência. Todos temos origem numa e a maioria de nós procura criar uma outra, carregando os mesmos defeitos ou virtudes da família de origem, criando novas sombras sobre a luminosidade marital.

A família pode ser aquela imagem bucólica do ninho com os passarinhos de bico aberto a receberem o alimento dos progenitores. Mas também pode pensar-se nas coelhas que rejeitam as crias, quando estas são tocadas por mãos humanas.

Nada é preto e branco no território dos laços de sangue. Os laços podem ser demasiado lassos, duas mãos invisíveis que comprimem a respiração, um abraço terno, uma picota que tira a água do poço para nos saciar a sede, ou para nos lavar as feridas. É no seio da família que surgem as lágrimas mais pesadas e os sorrisos mais primaveris.
A frase «A família torna-nos vulneráveis» lançou-me uma pedra no charco da memória e, no círculo trémulo das referências cinematográficas, emergiram as irmãs Lisbon, em lenta asfixia na casa da família. O filme The Virgin Suicides, de Sofia Coppola, traduz a perigosidade que se esconde no âmago das «boas intenções» dos pais. Quando não há forma de escapar do lar doce lar, pode fugir-se da vida.
Sim, a família pode ser a mão que nos empurra para o precipício, pode ser a mão que nos faz disfarçar os pulsos cortados por debaixo da alegria postiça de umas pulseiras coloridas.





Sem comentários: