sábado, 20 de setembro de 2008

Mar de sargaços

Imagem de Oana Cambrea
«Olhou em volta, para todas as mulheres que ali se encontravam, para as bocas que se abriam e fechavam, fosse para falar ou para comer. (...) Ali onde as via, todas envergavam os seus vestidos para figuras maduras. Eram maduras, algumas até tinham amadurecido demasiado depressa, e outras começavam já a transformar-se em passas; pensou nelas como criaturas presas a uma vinha invisível por meio de caules que lhes saíam do cimo das cabeças, assim penduradas nos vários estádios de crescimento e decadência... (...)

Eram criaturas peculiares; e havia o seu fluxo contínuo, interior e exterior; as coisas que ingeriam, as coisas que expeliam, as coisas que mastigavam - palavras, batatas fritas, arrotos, laca, cabelos, bebés, leite, excremento, bolinhos, vómito, café, sumo de tomate, sangue, chá, suor, bebidas alcoólicas, lágrimas ou lixo...
Sentiu-as por um instante - as suas identidades, quase a sua substância - , a passarem por cima de si como uma onda. A seu tempo, também ela ficaria assim, ou talvez já fosse assim; era uma delas, o seu corpo era o mesmo, idêntico, fundido com a restante carne que abafava o ar daquela sala florida com o seu aroma orgânico; sentiu-se sufocada por aquele espesso mar de sargaços de feminilidade. Respirou fundo, fazendo com que o seu corpo e a sua mente voltassem a si, como uma táctil criatura marinha que recolhesse os seus tentáculos; queria algo sólido, limpo: um homem (...)»

Um delicioso e irónico excerto d' «A Mulher Comestível», de Margaret Atwood

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