domingo, 7 de setembro de 2008

Um parêntesis


«O casamento ou equivalente tem que ter mais coisas e não é nem pode ser o grande reservatório de felicidade»


José Luís Pais Ribeiro, psicólogo e professor da Universidade do Porto, estudioso e conferencista internacional do tema da felicidade e qualidade de vida, em entrevista ao jornal Público (o2/09/2008), afirmou o que muitos pensam, mas receiam admitir, por medo de fugirem ao guião alimentado desde a infância (A Gata Borralheira casou com o príncipe e foram felizes para sempre; a história termina aí...porque o que sobeja é o tédio).

É insano olhar para o casamento como o arco-íris onde se esconde o tesouro da felicidade. Mas, a verdade é que o guião socialmente aceite e imposto persegue-nos. É uma ousadia ter 30 anos e não estar prestes a casar. Principalmente se se for mulher.

E se uma mulher justifica o estado de descompromisso amoroso dizendo preferir estar sozinha por, por exemplo, não ter conhecido um homem suficientemente estimulante do ponto de vista intelectual, ainda se arrisca a ouvir a brilhante frase: quem muito escolhe, pouco acerta. Como se a empatia profunda entre duas pessoas fosse uma escolha e não um bem escasso, uma raridade. Há cabeças que não percebem que uma mulher deseje um homem com quem não se canse de conversar sobre coisas que vão para além da banalidade ou do pragmatismo quotidiano.


«As pessoas nascem numa determinada cultura e desde o princípio aprendem um guião implícito acerca do que é a felicidade. Um dos registos mais prevalecentes nesse guião é acerca da relação dual, da família (e filhos). Há o estereótipo de que a felicidade depende da família a dois, mais especificamente do casamento e filhos. Este estereótipo traz uma grande sobrecarga para a vida do casal e pode ser fonte de infelicidade se essa expectativa não for satisfeita».


«A primeira falha é as pessoas acreditarem, vá lá saber-se porquê, que a felicidade está no casamento, e que o casamento é amor, paixão, intensidade sexual, etc. As relações sociais em geral são importantes, mas não estão marcadas por tanta rigidez como o casamento. O casamento tem associada a sexualidade e a procriação, indispensável nesse guião estereotipado da felicidade. E, no entanto, há pessoas que vivem juntas durante muito tempo, como os irmãos ou amigos, com uma vida frequentemente mais satisfatória do que no casamento».


«Não me parece que seja difícil viver sozinho. A solidão é mais um sentimento do que a realidade. Não se está só porque vivemos sozinhos. As pessoas que habitam no nosso pensamento e que acreditamos que gostam de nós e que estão lá se precisarmos delas são, com certeza, mais importantes do que a multidão que encontramos num bar (...)».


Compromisso de honra: continuar a acreditar no amor, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Continuar a acreditar na poética de duas cabeças que se tocam por dentro, enquanto dois corpos ateiam o fogo primitivo. (O casamento? Isso é apenas um parêntesis)

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