sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Arranha céu da boca

Imagem de Kostov Nikolay



Folheio palavras passadas e resgato um pedaço de escrita de Maio de 2000. Desengane-se quem pense que na origem esteve um grande amor. A banda sonora por aqueles dias era o álbum Fábula, de Maria João.



Tu és palavra,
não significas muito ou pouco.
Significas tudo ou nada,
ou futuro.

És olhar
sem o veres.
Olhos de verbo escuro,
de tinta permanente escrito.

Trocamos correspondência
sem papel, nem código postal:
tu lês-me,
eu deixo-me ler.

Trocamos:
agora, um girassol desenraizado´
a ler a inclinação de um sol.
Lumes no chão.

O teu rosto,
areia de madrugada.
Aqui e ali
gaivotas em asas de barba.

Corro à beira-olhos, teus.
Duas algas de alma
serpenteantes, nas escamas
brilhantes das marés - os meus.

Apanho a tua voz,
na geometria de uma rede
e guardo os sons
na espiral de um búzio.

Escavo um buraco
na aridez das areias dos dias.
Procuro a humidade frágil
do castelo de um arquitecto de afectos.




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