Estou sem voz. Às vezes, fico sem palavras. Mas hoje estou de voz perdida, literalmente. Vou ao centro de saúde porque isto já lá não vai com tantum verde ou hydrotricine. O médico pergunta-me o que tenho. Mal abro a boca, percebe que é mais o que eu não tenho. O senhor doutor brinca. Diz-me que o namorado deve agradecer eu estar assim, que é da maneira que não berro com ele. Saio de receita na mão, toma lá com antibiótico. Lá vou eu, rua fora. Eu e a minha traqueíte à procura da farmácia de serviço.
Receita aviada, toca a ir em direcção do carro. A ver se fujo do sol. Encontro o senhor de bigodinho à marialva. O senhor de bigodinho à marialva que teima em me cumprimentar com dois beijinhos, apesar de eu dizer que estou doentinha. O senhor de bigodinho à marialva começa a desfiar o habitual discurso em torno das virtudes estéticas que encontra em mim. A mulher, filha e cunhado do senhor engatatão vão um pouco mais à frente. Sussurro-lhes as boas tardes. O senhor engatatão cinquentão prossegue, em frente à família, os lugares-comuns do costume: «Se eu fosse solteiro, eras chinelo para o meu pé», «os táxis têm uma placa a dizer livre ou ocupado, tu devias ter uma coisa dessas também». Sorrio, em frente à mulher, filha e cunhado. Despeço-me e ponho-me a andar. Há dias em que dá jeito não ter voz.
[uns perdem a voz, outros perdem a cabeça e a compostura]
3 comentários:
Que a voz não te rpube as palavras que escreves!ºmelhoras para a laringite....:) Beijinhos
Obrigada, Violet :)
Eu sempre disse que gosto mais da escrita do que falar em público...mas também não era preciso a minha voz pregar-me esta partida :)
oh jesus,
deve pensar que é o zezé camarinha :p
beijinho,
sara
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