Viver o cancro, morrer de cancro. Tenho medo da possibilidade. Dói-me, dentro da própria dor, ver também quem amo sofrer de cancro. Tenho medo. E só se espanta esse medo com o que é eterno. E eterno é o amor. Sim, o amor. Aquele amor inquebrável que, perante as adversidades, se fortalece. Porque esse amor existe. É obsceno, este amor: humilha quem vive relações de faz de conta.
A vida pode querer esboroar a fé no amor, pondo-nos à frente dos olhos relações em estilhaços. Multiplicam-se os finais de relações, nossas, dos outros ou de aqueloutros. Mas eu continuo a acreditar no amor. Não com a ingenuidade dos 19 anos, mas com a romântica lucidez dos 32.
Quero um amor como o dos meus pais. E quero que, um dia, um filho me abrace como eu abraço a minha mãe. E refile preocupadamente comigo como eu faço com o meu pai.
Saber que moramos no peito de alguém, saber que no abraço desse alguém nos sentimos em casa, sentir que, em redor do outro, podemos desvelar intimidade...haverá alguma coisa, além disto, que dê verdadeiro sentido à vida?