Estou com 38 anos e começo a perceber que a descendência significa largamente mais do que o quanto é evidente. Hoje sei que me faltam os filhos para um tipo de amor de que sou capaz e não tenho a quem deixar. Nesse sentido, posso pensar que desperdiço esse amor, deito-o fora, desimportante para outras coisas como seria fundamental para cuidar de um filho. Ando toda a vida a colocar, nos lugares daquilo que me falta, poemas e histórias com mais ou menos carochinhas. Ando a pôr poemas nos lugares vazios da casa, nas cadeiras onde outrora se sentavam pessoas, nos vasos secando pela minha progressiva ausência, maior, maior ausência, e ponho poemas ao meu lado, como gente falando e mexendo à espera que algo aconteça como milagre da palavra. Poemas crianças que brincam comigo e gostam de mim, aprendem a nutrir um amor incondicional por mim que me trará uma alegria a vida inteira e que me responsabiliza (...)»
valter hugo mãe (Jornal de Letras, 24 de Março a 6 de Abril de 2010)
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