domingo, 6 de dezembro de 2009

O início

Desenho de Graça Martins


«O amor.
É um nicho no qual nos enroscamos? É um pedaço de universo sobre o qual reinamos? É um vago arranjo? Um contrato para dar remédio à solidão? É a descoberta de um lugar desconhecido? É a exploração de uma vida? É a procura de um duplo? De uma outra metade que um Deus amador de puzzles tivesse escondido? É uma aposta? A busca de uma unidade perdida? Datada de quando? Instaurada por quem? É um espelho? Uma recordação de infância? Uma ideia de felicidade? Um sonho? É uma doce inquietude? Uma paixão? A guerra? É uma ideia da perfeição? Pensamos nele ao morrer? É uma perdição? A negação de si? É um desespero? Uma religião? É o cumprimento de um programa? Genético? Cósmico? É a santidade? É uma maldição? Um corpo a estreitar? Uma alma a adivinhar? É um pedaço de espaço/tempo acelerado? Ou a paragem do tempo? Ou o fim do espaço? É uma equação a resolver? Uma dição de qualidades e de belezas? Uma antimatéria? Um mundo do avesso? Um aspirador de sentimentos? Um buraco negro do espaço? A outra face de uma galáxia? É um acaso? Um silício emotivo? Uma carícia que não tem fim? Um poema para viver? Um nascimento e uma morte misturados? O início da eternidade? Um labirinto? Um estratagema? Um enternecimento? É entrar na alma de alguém? Aí se dissolver? É o oceano que cabe todo na palma da mão?

Miléna não se interrogou acerca disto.
Adrien interrogou-se, sem encontrar resposta».


Yves Simon, in O Viajante Magnífico

Sem comentários: