mulher comestível
«O título do livro pensara nele enquanto olhava fixamente para a montra de uma pastelaria cheia de porquinhos de maçapão. Há já algum tempo que eu andava interessada na questão do canibalismo simbólico.Na altura, eram os bolos de casamento, encimados pelos seus noivos de açúcar, que muito em particular me fascinavam», Margaret Atwood
quarta-feira, 10 de abril de 2013
Abeirem-se do meu novo blogue
Para quem ainda não desistiu de visitar o Mulher Comestível, venho informar que criei um novo blogue. Trata-se do «ABeira-te», um blogue associado a uma página do Facebook com o mesmo nome. Apropriando-me de uma expressão usada por Gonçalo M. Tavares num belo poema do «Livro da Dança», explico que o »Abeira-te» pretende olhar e contar as Beiras com «comprimento, altura, profundidade e milagre». Claro está que isto tem a ver com o facto de eu ser beirã, com muito gosto. No «ABeira-te» vão encontrar uma forma muito íntima de olhar as Beiras. Espero que se abeirem e gostem da minha nova ideia.
domingo, 10 de março de 2013
domingo, 24 de fevereiro de 2013
Das mudanças
Gosto da mulher que em 2013 venho sendo. Gosto da serenidade com que encaro as mudanças. Gosto da confiança que tenho no futuro, apesar de todas as incertezas que sobressaltam este país. Gosto de perceber-me, com clareza, mais madura. Gosto de perceber que as muitas coisas duras e intensas que vivi nos últimos anos me fortaleceram mais que me fragilizaram. Gosto de me sentir uma casa sólida - e de saber que mais importante que encontrar abrigo nos outros, é sermos o primeiro dos abrigos ( "o abrigo"). Gosto de me perceber mais parecida com a minha mãe que aquilo que julgava. E gosto de desprender um sorriso perante esta constatação. E amo mais ainda (se isso é possível) a mãe que tive e tenho, e amo mais a família que em torno da minha mãe cresceu. Gosto do afecto dos que me abraçam os dias. E das conversas que me dão certezas. E das conversas que me trazem a dúvida. Gosto de apreciar a vida que tenho, com as suas imperfeições. Contento-me com pouco? Não. Valorizo o que me é essencial. O que somos ninguém nos tira. Nem a troika.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
domingo, 6 de janeiro de 2013
terça-feira, 1 de janeiro de 2013
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
E o Natal também é isto
O Natal pode ser um tronco a arder, junto a um pelourinho decorado com o alto patrocínio das cervejeiras. Em Santar, Viseu, pode.
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Sangro
Imagem do filme Nothing Personal, de Urszula Antoniak
Sangro de luz
no instante em que disseco
o húmus do teu gesto.
no instante em que disseco
o húmus do teu gesto.
domingo, 16 de dezembro de 2012
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
terça-feira, 13 de novembro de 2012
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Abraçar um sorriso
Ilustração de Gabriel Pacheco
Um poema de José Tolentino Mendonça. Porque hoje uma amiga regressou. Porque ela nunca partiu. Porque os amigos nunca partem, por maior que seja a distância geográfica. Porque foi muito bom voltar a abraçar um sorriso que é uma mesa posta em redor de uma lareira.
Uma canção debaixo do dilúvio
Ocupam-nos com a sua feroz solidão
e conhecemos o seu cheiro, o consumo difuso,
o visível de ambos os lados
Diante deles não é
Ocupam-nos com a sua feroz solidão
e conhecemos o seu cheiro, o consumo difuso,
o visível de ambos os lados
Diante deles não é
possível dissimular
a ironia ou a piedade
Esperam por nós entre diversas combinações
à superfície e para além disso
Um amigo é uma machine à habiter
o vento pré-histórico das montanhas geladas
Talvez pertençam a outros mundos
pois nos abraçamos sempre como sobreviventes
Com eles podemos arrancar uma canção
debaixo do dilúvio
a ironia ou a piedade
Esperam por nós entre diversas combinações
à superfície e para além disso
Um amigo é uma machine à habiter
o vento pré-histórico das montanhas geladas
Talvez pertençam a outros mundos
pois nos abraçamos sempre como sobreviventes
Com eles podemos arrancar uma canção
debaixo do dilúvio
José Tolentino Mendonça, in Estação Central
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Um ano
Um ano.
09/09/2011. Podia ser só mais uma data daquelas que passam despercebidas no calendário. Um dia insignificante, daqueles em que se faz a soma das rotinas quotidianas, com mais sol ou chuva, com mais vento ou trovoada. Mas não. É a data em que te foste desta vida; é a data em que passaste a estar somente viva dentro daqueles para quem eras significante.
Lembrar a tua morte é sublinhar a vida. E as vidas que tocaste.
Lembro-me de ti todos os dias, e é uma sementeira o que sinto dentro.
Deixaste em mim muitas, tantas, sementes porque eras mulher de semear,
de fazer acontecer.
Lembro-me de ti, na tua partida, minha Branquinha, e é nisto que penso: por mais sombra que tenha o dia, há sempre traços descontínuos, para se conseguir ultrapassar a tristeza. E o caminho segue, contigo.
Lembro-me de ti, na tua partida, minha Branquinha, e é nisto que penso: por mais sombra que tenha o dia, há sempre traços descontínuos, para se conseguir ultrapassar a tristeza. E o caminho segue, contigo.
segunda-feira, 9 de julho de 2012
quinta-feira, 5 de julho de 2012
sábado, 9 de junho de 2012
quinta-feira, 19 de abril de 2012
terça-feira, 17 de abril de 2012
domingo, 1 de abril de 2012
sábado, 10 de março de 2012
Shame
Hoje à tarde vi o filme «Shame», de Michael Fassbender. Fez-me lembrar a poesia de Luís Miguel Nava.
O Abismo
Com a sua pele de poço, pele comprometida com o
medo que no fundo fede e a que, digamos, toda ela adere
de uma forma resoluta, dir-se-ia que se engancha, se pen-
dura, o branco da memória a alastrar pelo corpo, um bran-
co tão branco como o das noites em branco e sobre o qual
a idade, exorbitada, hiante, se insinua, pensos, ligaduras,
impregnados de memória, uma memória onde fulgura a
lava dos sentidos que entram em actividade e lhe dis-
putam os dias idos, assim ergue a balança, onde sustém
o abismo.
Luís Miguel Nava, in Vulcão II -Poesia Completa
quinta-feira, 1 de março de 2012
sábado, 25 de fevereiro de 2012
sábado, 11 de fevereiro de 2012
Vertigem
Imagem de Cassie Kammerzell
Queria ver a imensidão do mundo.
Subiu alto, muito alto, e muitas vezes - deixou de ver a maçã a ruborescer.
Um dia veio a vertigem: só então percebeu a diferença entre subir e crescer
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Da (im)preparação para a morte
Nestes últimos dias, muito se tem falado em mortes desumanas. Em idosos que são encontrados, sem vida, em casa, semanas, meses, depois de a morte os resgatar. Em idosos que morrem em hospitais.
Mas desumano não é morrer num hospital. Desumano é morrer sem amor. O amor não surge espontaneamente, sem semente, no aproximar da morte. O amor é um projecto de vida. Ou cativamos os outros - e o seu amor - ao longo da vida ou não se espere que ele nasça nas horas que antecedem a agonia.
E não se ama menos por deixar que um dos nossos morra numa cama de hospital. Haverá quem abandone os seus à vida, e à morte. Há quem arrede a velhice, colocando-a em lares. Há quem se arrede da velhice, entregando os seus à solidão. Há quem não queira saber dos seus velhos da mesma forma que não quiseram saber deles enquanto novos. Há quem não queira saber dos seus velhos porque nunca existiram laços profundos, para além daqueles que o sangue impõe. Há quem não queira saber dos seus velhos porque estes nunca foram flor que se cheire. Há quem não saiba amar. Há quem não saiba tornar-se amado. A velhice só torna a falta de amor mais dramática.
A minha experiência fala-me de amor. Na minha família não se deixou morrer ninguém ao desamparo. E eu nasci rodeada de avós e bisavós. O que significa que já perdi muitos dos meus. Alguns muito precocemente: a minha avó materna, a minha mãe. Muitos dos meus morreram em ambiente hospitalar. Se morressem em casa não teria sido melhor, nem menos doloroso. A morte nunca é fácil, nem nunca se está preparado. Não há manuais que nos valham. Não há soluções ideais para a morte porque a vida não é perfeita. E por isso não o é também no capítulo final.
Há pouco menos de cinco anos, a minha família levou com um murro no estômago chamado cancro colorrectal T4. Um tumor T4 é uma morte anunciada. A expectativa médica era que a minha mãe vivesse apenas um ano, dois no máximo. Após o diagnóstico, viveu quatro anos e meio, cinco operações, 40 e muitas sessões de quimioterapia, uma ostomia, duas nefrostomias.
A minha mãe superou as expectativas porque era uma mulher forte, porque era amada porque amava a vida. Tenho a certeza disso. E porque teve um médico, uma equipa médica, que nunca desistiu dela. Por isso, naquela manhã em que se viu ao espelho e teve consciência da cor amarela com que estava, sinal de metástases hepáticas, quis ir para o hospital. Ela sabia que aquela era a última viagem que faria, com vida. Foi pelo pé dela, o meu pai conduziu-a. Ele também sabia que o amor da vida dele não sairia mais do hospital.
A minha mãe sabia que no hospital seria tratada da melhor forma possível, pela equipa do doutor Leitão. E foi. Foi acarinhada por todos e teve, tivemos, a sorte de ela poder ficar num quarto individual. A nutricionista foi visitá-la para lhe perguntar o que queria comer. E comeu, de facto, aquilo que lhe apetecia. Até o arroz de feijão. Foi mimada, tanto quanto alguém podia ser. E não teve dores. De certa forma, despediu-se de nós, enquanto ainda tinha capacidades para isso. Depois, o depois, não há como evitá-lo. A dor de ver quem se ama em agonia. Não há como fugir dela. Morre-se sempre só porque há uma altura em que a comunicação deixa de ser possível. Mesmo que continuemos a falar com quem estamos prestes a ver partir.
Nos últimos dias de vida da minha mãe, os nossos passos em direcção ao hospital deixaram de ser entusiastas e passámos a ter passos arrastados, como se o peso no peito colasse os pés ao chão. Víamos no olhar dos enfermeiros a tristeza, a tristeza de verem partir uma mulher que lutou tanto e com a qual foram criando amizade, ao longo dos anos. A minha mãe sentia-se em casa, ali, no Hospital S. Teotónio. Ela chegou a dizê-lo. Por isso quis morrer ali, sem dores, sem sofrimento físico. Quis também preservar-nos de a vermos morrer com dores. Sei-o.
Todos sabíamos que ela ia morrer. Tentei preparar-me. Cheguei a comprar, por recomendação de um amigo médico, o livro «Acolher a morte», de Elizabeth Kübler-Ross. Hesitei em trazer o livro da Fnac, como se o livro me queimasse as mãos, como se o simples facto de comprar aquele livro fosse um sinal de que eu tinha assumido a derrota. Comecei a lê-lo só pouco tempo antes da morte da minha mãe. Desisti. Nunca estamos preparados para aceitar a morte de quem se ama. Nunca. Por muito que a morte seja expectável, por muito que se sinta que se disse e mostrou o quanto se ama o outro.
Aliviou saber quais os recados que a minha mãe deixou com uma grande amiga. E saber que mesmo sem recado, nós teríamos feito exactamente o que a minha mãe queria: ser velada em casa; ser enterrada na campa da mãe dela. E saber que ela quis que nós soubéssemos que foi muito feliz com os filhos que teve e tem; e com o marido que teve e tem.
O amor não desaparece com a morte.
domingo, 29 de janeiro de 2012
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
Respira acção
Desenho de Miguel Horta
Na lisura da mão nocturna
O coração fóssil ganhou vegetais gestos -
'Fotossinto-te', murmurou ao mundo.
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
domingo, 22 de janeiro de 2012
Desfolhar
Ilustração de Gabriel Pacheco
Queria desfolhar-me
do alfabeto de luz e sombra.
Ser a primeira madrugada do mundo.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Um fosso nem sempre é uma falha
Imagem do filme Nothing Personal, de Urszula Antoniak
Um fosso nem sempre é uma falha.
Veja-se o amor: um socalco ao qual não se chega sem escavar. O labor.
Um degrau com a profundidade dos passos sintonizados.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Da inutilidade das palavras
Há dias em que não se querem palavras.Só a pontuação
ESSENCIAL.
Um ( ) em torno de nós.
Uma ! a cair direitinha no estômago.
Um . nas dúvidas. Na dúvida.
.
domingo, 16 de outubro de 2011
sábado, 15 de outubro de 2011
sábado, 17 de setembro de 2011
Luto
O luto não é a ausência de luz. O luto é a emigração de palavras essenciais para parte incerta. O luto é saber que posso dizer mil vezes 'mãe'. Mas que nunca mais te ouvirei dizer 'filha'.
terça-feira, 16 de agosto de 2011
sexta-feira, 22 de julho de 2011
A tua vida é que é uma ilha, não tu
Aviso à navegação: O que abaixo se segue foi descaradamente furtado no There's only 1 alice.
«Às vezes não te compreendo bem.» «Sou uma ilha pequena, Paula.» Sim, uma ilha pequena, sem arquipélago, e à volta o oceano desconhecido e um nevoeiro tão denso que não deixava ver os barcos, se os havia. Mas era natural que os houvesse. Há sempre barcos em volta das ilhas. Estivera um dia numa ilha assim… A voz de Paula ria na sua sala, no seu divã. «Todos o somos, não és original.» «Mas eu sou aquela ilha.» Pequena e com praias de cascalho, não muito belas, e voltadas para oriente. O sol abandonava-as a meio da tarde e então fazia frio e a água ainda há pouco morna e confortável tornava-se gélida, matéria opaca, cheia de vida, de morte e de mistérios. Só havia uma coisa a fazer, subir, subir à procura de um resto de sol. Mas do lado ocidental era o reino das gaivotas e dos rochedos a pique. Coisas só para olhar. Ruídos que eram silêncio. E acabava sempre por regressar à tenda onde estava acampada com uns amigos. Cansada. Farta. A querer ir-se embora e sem partir. «Mas a tua vida é que é uma ilha, não tu.» «Sim, a minha vida», concordou Jô. «Mas o que sou eu sem a minha vida, o que somos nós sem ela?» «Bem, é tarde, vou deitar-me», disse Paula. «E o teu caso, na mesma?»
Maria Judite de Carvalho
quinta-feira, 5 de maio de 2011
segunda-feira, 25 de abril de 2011
domingo, 24 de abril de 2011
Subscrever:
Mensagens (Atom)